continuacao do debate sobre a crise.

Texto em 26 de novembro de 2008:

Continuando sobre o debate, a presença do economista Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, nos mostrou que é possível o país passar pela crise, mas não sem muitas dificuldades e que a crise brasileira pode ser mais complicada do que nos outros paises:

O texto abaixo é baseado na intervenção do economista, mas os comentários, em sua grande maioria, são meus:


Uma radiografia da crise – causas da crise: algumas causas da crise são de ordem conjuntural, já que o governo americano, principalmente na era Bush, a partir de 2001, com receio da recessão, o banco central americano começa a baixar os juros chegando a 1% ao ano, usa grande parte do orçamento com gastos bélicos, para pagar sua divida com os financiadores de sua campanha, também devia satisfações às empresas petrolíferas, iniciando assim as guerras no Oriente Médio. Com a invasão do Afeganistão e logo a seguir a invasão do Iraque sem um motivo concreto, começa então esse “pagamento do empréstimo”, afastando, a principio, a ameaça de recessão que existia no inicio de do governo.

Essa conjuntura torna-se favorável ao mercado financeiro que oferece empréstimos baseados nos títulos imobiliários, sem a regulamentação do Estado, passam a utilizar o mesmo titulo hipotecário em varias instituições e operações, vendendo, emprestando esses títulos como se seu valor não tivesse fim. Essa jogada financeira conhecida como derivativos (títulos que derivam de outros, formando um mosaico), favoreceu em muito o crescimento da bolha imobiliária que já contaminava outros paises.

Outra causa da crise é de ordem estrutural: o capitalista não via no mercado americano possibilidades de grandes lucros, com a taxa de juros muito baixa, passou a destinar suas economias a paises em desenvolvimento e a mercados mais lucrativos. Como a forma de ganhar dinheiro fácil não é mais a produção, desviaram recursos que poderiam ser empregados nos meios de produção, na economia real, para a área financeira, levando a diminuição do crescimento da economia dos EUA.

Essa crise tem duas particularidades: é uma crise real, afetando o plano prático, o cotidiano e é uma crise financeira, algo como uma crise virtual, afeta investimentos e aplicações financeiras. Nesse ultimo caso, quando o mercado financeiro não vai bem os investidores tendem a retirar seu capital levando-o para outras paragens, isso fica no plano financeiro, ou seja, as bolsas de valores, os bancos de investimentos etc, no entanto, se isso ocorrer com grandes somas, muitos investidores retirarem seu capital de um determinado país, essa crise se instala no plano real, tornando a vida da sociedade, mesmo quem não investe, um caos.

Nesse momento, os endividados não tem como pagar nem os juros aos bancos, nem a divida principal, gerando uma crise de solvência, ou seja, os devedores que tinham um ativo (patrimônio sólido) para pagar suas dívidas o vê se tornando insuficiente para cobrir seus débitos. O que deveria ser sólido, no caso do capital patrimonial, se liquefaz, escoando e levando a uma desestabilização do sistema. Os insolventes, devedores que não podem pagar suas dividas, se tornam maioria, o governo precisa intervir para não ter um desastre econômico maior. O mercado nega-se a emprestar mesmo para os que podem pagar. Em conseqüência disso, na economia real, aumenta o desemprego, ocorre a diminuição do consumo e da renda.

Esclarecendo as causas da crise, o debatedor nos leva a algumas reflexões sobre situação e as nuances que fizeram parte desse processo:

- Fatos políticos:
- Vemos governos e políticos que se colocavam no extremo do neoliberalismo, defendendo com unhas e dentes a desregulamentação do mercado, nesse momento todos os governos neoliberais, inclusive o governo americano, mostram uma face intervencionista, privatizante e regulatória, que não fazia parte de seus discursos. Vale brincar aqui, por exemplo, com Bush e Sarkozy, dois liberais extremistas que agora defendem a intervenção e privatização. Não são mais seguidores de Milton Friedman ou da Escola de Chicago, ao contrário, rejeitam suas ideias e defendem as do médico inglês John Maynard Keynes que ajudou Rosevelt a tirar os EUA da bancarrota na crise de 1929; uma pergunta não que se cala: onde estao os economistas neoliberais e suas teorias de laissez faire no mercado?
Piada corrente nos meios acadêmicos é que esses se esconderam ou estão fantasiados de keynesianos.

- A crise afetou inclusive os resultados das eleições americanas, um país conservador como o EUA dificilmente elegeria Obama se não fosse o medo do que mais pode vir com essa crise.

- Mostra-se premente uma necessidade de combater o capitalismo: a lógica do capitalismo é a de máximo lucro e máxima acumulação, sem combate e resistência a esse sistema ele tende a destruir o Ser humano, nas palavras de Reinaldo “é necessário combater esse lado satânico do capitalismo”. Para isso é preciso regular a atuação do capitalista, regular as relações de trabalho etc.


Como resolver a crise: Princípios da Ciência Econômica:

- Intervenção do Estado gerando liquidez no mercado. Os bancos ficam cautelosos e receosos quando falta dinheiro no mercado e se tornam mais exigentes e aumentam os juros, nessa situação é mister o governo buscar saídas como a injeção de capital, facilitando o crédito, enfim, gerando liquidez.
- Saneamento financeiro: compra de bancos e empresas de investimentos que tenham títulos podres, evitando assim o efeito dominó que leva o sistema ao colapso.
- Estatização: é um meio de resolver parte da crise, com a estatização quem garante o fluxo e crédito das empresas passa a ser o Estado. Existem riscos no meio de uma crise que os bancos e empresas costumam se aproveitar que é tentar vender ao governo empresas com ativos menores do que seus valores reais no mercado por preços astronômicos.
- Garantia para o sistema econômico, principalmente para quem tem menos condições financeiras. O governo alemão garantiu todos os depósitos e empréstimos de qualquer valor, trazendo tranqüilidade à sociedade e ao mercado.
- Políticas expansionistas: quando o Estado está numa situação de crise real, os mandamentos da boa política econômica sugerem que haja investimentos em infra-estrutura e na geração de empregos.
- Política de controle cambial: com a valorização do dólar e conseqüente desvalorização do real, o mercado torna-se um campo fértil para especulação baseada no cambio, um governo com boa visão da economia deve avaliar ações que coíbam a saída de dólares e as especulações. Por exemplo, implementando políticas de fiscalização e métodos de evitar a saída da moeda e investimentos que visem criar um abismo cambial em relação ao Real.
- Mecanismos sociais: o governo pode, nesse momento, avaliar como diminuir o impacto da crise nas camadas menos favorecidas, bem como na classe média, uma das ações americanas, por exemplo, foi devolver parte do imposto de renda aos contribuintes. É um momento oportuno também para se pensar em como estruturar uma reforma tributária que tem sido ensaiada há tempos no legislativo.

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