Debate sobre a crise 2008

São Paulo, 22 de Novembro de 2008.

Na tarde chuvosa desse sábado, reuniram-se no sindicato dos bancários, aproximadamente 120 pessoas do PSOL e simpatizantes, com o intuito de debater sobre a crise econômica mundial e brasileira. Na mesa de debate estavam Ivan Valente, deputado federal pelo PSOL, César Benjamin, da editora Contraponto, e Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJ.

A proposta do debate era esclarecer, por meio de uma visão mais técnica e precisa, a extensão real da crise, avaliar como o Brasil foi afetado e ainda será, quais as diferenças entre a crise mundial e a crise brasileira, analisar o modelo econômico atual, suas deficiências e desestruturação perante o momento.

As colaborações foram muito importantes, a começar por César Benjamin que mostrou com um descrição de fácil entendimento e com uma linguagem clara para os leigos ali presentes, em suas palavras, comparando a crise para uma melhor compreensão, com um computador: “essa crise não é uma crise de hardware, mas sim uma crise de software”, com isso querendo mostrar que a crise não está no âmbito pratico ou real, está no âmbito financeiro ou especulativo, não é uma crise de produção, pois o capital migrou para uma situação onde os meios de produção não são mais tão importantes como antes, o que importa agora são os investimentos, assim o capitalismo pode tornar-se quase que um ser onipotente e onipresente, sem fronteiras que o prenda, sem limites territoriais e de ação.

Seguindo essa comparação, o hardware seria o sistema de produção e o software seria o sistema financeiro, é bom deixar claro que a crise econômica tem suas raízes no sistema financeiro, pois não são os meios de produção que estão deixando de cumprir seu papel, é o mercado que, desregulado pelas exigências neoliberais, está em estado de caos, levando também os empregos e renda dos menos favorecidos à desaceleração.

O sistema financeiro, mas principalmente o sistema bancário, está passando pelo momento que eles mesmos criaram, com suas negociações sem regulamentação e com o objetivo de favorecer sempre aos especuladores, tornaram essa crise muito maior do que seria se agissem com responsabilidade. Aqui vale uma ressalva, o sistema bancário brasileiro é mais conservador e cauteloso que os sistemas dos paises desenvolvidos, no entanto, os bancos daqui, como os de lá, apostam em derivativos e nos empréstimos em volumes maiores que os seus patrimônios, os daqui com mais cuidado e segurando o crédito para se protegerem de bancarrotas extraordinárias como as das instituições dos EUA. O problema é que para favorecer o crédito e manter a economia caminhando, o governo abriu, ingenuamente, vamos fingir que aqui acreditamos nisso, uma caixa que os bancos a muito exigiam que fosse aberta, a dos depósitos compulsórios, quando o Estado liberou os 100 bilhões dos compulsórios esperava que os bancos fizessem seu papel e colocassem esse dinheiro em circulação, foi um tiro n’água, pois o sistema bancário não liberou esse dinheiro para os consumidores, tornando a crise brasileira pior do que deveria.

A exposição do César foi uma aula de política econômica e de historia moderna, pontuando momentos na era moderna onde ficam claros os descasos com o público para beneficiar o privado. Um dos momentos onde eu citaria como ápice de sua intervenção, o debatedor nos referenciou, historicamente, como se desenvolveu o sistema que tornou os americanos senhores hegemônicos do planeta. Ao citar Bretton Woods (Acordo da Conferência Internacional Monetária de Bretton Woods, ocorrido em 1944, visava assegurar a estabilidade monetária internacional), onde o mundo tentou construir uma nova ordem econômica de forma a proteger-se de crises buscando a estabilidade financeira, nesse momento nasceram o FMI e o Banco Mundial, com a incumbência de tornarem-se então pacificadores do mundo.

A idéia para evitar desmandos com as moedas que dominavam o mercado foi usar o dólar como moeda padrão, lastreada pelo ouro, que também já lastreava as emissões de dinheiro em cada país. No entanto, em meados da década de 60, com os problemas enfrentados pela economia americana, o Estado passou a emitir dólares sem respeitar a lastreabilidade, para compensar o déficit orçamentário. Em 1971, no governo de Nixon, o EUA, usando de sua posição hegemônica e de potência bélica, impôs o dólar como a moeda de reserva internacional, mudando o foco do sistema capitalista para a área financeira, tornando-a mais importante que os ativos comerciais. Nesse momento, juntando a isso o inicio da globalização, o mercado financeiro passou a dar as cartas nas políticas econômicas e nas políticas de Estado. Usando palavras do debatedor “imagine você ter uma máquina de fazer dinheiro em sua casa”, evidenciando o desequilíbrio mundial perante os americanos, pois com a imposição do dólar como moeda de reserva mundial, a América passou a deter em suas mãos o controle quase absoluto do comércio planetário e do sistema financeiro, acabava nesse momento a necessidade de haver o lastro em ouro, que impedia os abusos, passaram a emitir dólares como bem entendessem, já que só a casa da moeda americana era autorizada a fabricar o papel, eles não mais sentiam que precisavam respeitar as soberanias de outras nações, nem tinham que dar satisfação pelas suas políticas econômicas equivocadas.

O estrago que o Tio Sam proporcionou com sua arrogância e desfaçatez pode ser sentido hoje no auge de uma crise que tem lá seu epicentro, mas que obriga o mundo a fazer das tripas coração para equilibrar essa situação.

Comentários

LuisaMoreira disse…
Ailton,
Parabéns pelo espaçao de debate. Quem dera a maior parte dos brasileiros fosse de cidadãos assim, preocupados com a qualidade de vida de todos. Certamente teríamos um país melhor.
Quanto à palestra, concordo com o deputado: a insaciável busca pelo poder, por parte de alguns, está tranformando a vida de todos num caos.
um abraço,
Luisa Moreira