Texto baseado em análise bibliográfica de dois autores: Sennett e Bauman, ambos sociologos com vários livros publicados e temas pertinentes a política

No texto “A Corrosão do Caráter” Richard Sennett fala sobre a mudança do modo de vida americano, usando como exemplo a vida de um faxineiro chamado Enrico que utilizava o trabalho como algo para servir a família; levou quinze anos para comprar uma casa. Sua esposa Flavia começou a trabalhar como passadeira para ajudar no orçamento doméstico, causando uma certa vergonha ao marido; economizava para a educação dos filhos e buscava dar-lhes o que não tivera, a chance de vencer na vida, de ter mobilidade social; antipatizava com as minorias como os negros, apesar de ter trabalhado com alguns deles e com os imigrantes não italianos, mesmo com seus pais mal sabendo falar inglês e com pessoas de classe média, pois sentia que o viam como um zero ou algo invisível; não tinha aliados de classe, seu sindicato era o responsável pelas decisões junto aos patrões; tinha uma rede de amigos baseada no bairro em que vivia antes da nova casa; a vida pacata tornava possível observar o mundo e planejar seu futuro e de sua família como os que viveram numa geração onde tudo era bem mais previsível.

O tempo na geração de Enrico seguia uma certa lógica ou linearidade, trabalhava em empregos que eram rotineiros, onde acumulavam conquistas paulatinamente, com a certeza de não haver mudanças bruscas em suas vidas. Nessa época, as incertezas causadas pela segunda guerra e as crises que a precederam, já estavam mais controladas, tinha em seus sindicatos uma proteção e, conseqüentemente, poderiam prever seu futuro financeiro e sua aposentadoria, eram autores de suas próprias vidas. Com freqüência, faziam parte de dois mundos, com duas identidades, baseadas na vida desde a infância, com seus amigos e na sua vida adulta com família constituída, onde tinham suas casas em locais diferentes dos que haviam nascido e crescido. Normalmente mantinham a ligação entre essas duas realidades com facilidade, tendo reconhecimento dos amigos antigos por manter uma vida integra eram vistos como pessoas que venceram em suas vidas, no local onde viviam as novas vidas, eram considerados pessoas de bem, sem contratempos e mantendo seu padrão de vida sem grandes inconvenientes.

Enrico queria que seus filhos tivessem a ascensao social que ele não tivera, apesar de sentir que tinha um certo grau de respeito social, não queria que os filhos repetissem sua vida. Seus filhos sentiam se envergonhados com as posturas de operário e maneiras rudes de seu pai. Mantinha um controle sobre suas vidas e a disciplina para conseguir alcançar seus objetivos, visava com isso garantir a manutenção dos objetivos em longo prazo. Ensinava para eles valores como ética e compromisso com a família.


Por outro lado, o texto nos apresenta Rico, filho de Enrico, que tem uma vida completamente diferente a do pai, uma vez que tem uma vida financeira próspera, concluiu sua graduação, pela vergonha de suas origens usa símbolos que demonstram poder como se fosse de uma linhagem nobre, ostenta sua posição com roupas finas e objetos de luxo. É de classe média, casou-se com uma moça protestante de uma família com melhor poder aquisitivo, conquistou a tão sonhada mobilidade social que o pai queria, mas rejeita a vida pacata e sem muitos riscos que o pai levava, aceita e prefere a vida atual com os riscos que ela impõe, diz desprezar os conformistas e os funcionários que se dedicam a tentar uma vida menos arriscada, como os funcionários públicos, sua ascensão o levou a fazer parte dos que são listados na minoria no topo da escala social; mudou de emprego em sua curta carreira e, conseqüentemente, de residência e tem uma vida corrida sem muita linearidade.

Rico começara sua vida em uma empresa de tecnologia nos primórdios dos Vale do Silício, mudou para Chicago em busca de oportunidade e se deu bem nessa troca, tem em sua esposa uma parceira no mesmo nível profissional, mudou-se pelas necessidades profissionais dela na terceira vez, nesse momento, foi demitido e retornaram para Nova York onde abriu uma pequena empresa.


Entretanto, Rico não se sente no controle de sua vida, pois tem medo de perd-lo a qualquer momento, vive em estado de ansiedade com essa expectativa, esse controle refere-se ao tempo, tornou-se escravo do tempo dos clientes, pois eles que pagam para que ele mantenha seu estilo de vida. Usa a tecnologia como forma de comunicação, apesar de achar as relações modernas fugazes e superficiais. Sua esposa vivencia no ambiente corporativo uma constante nas empresas modernas, regras rígidas e vigilância dos meios de comunicação para que a produtividade seja cada vez maior. A empresa moderna se movimenta sem sair de sua base, mantendo funcionários trabalhando em casa e se comunicando eletronicamente, possibilitando assim uma comunicação mais ágil e rápida, eliminando inconvenientes que diminuiriam a produção..

Esse sentimento angustiante de que a qualquer momento pode estar sem o controle de suas vidas, não se relaciona somente ao lado profissional, entranhava-se em sua vida pessoal e emocional. As amizades que fizeram foram com pessoas em seus locais de trabalho, como as mudanças eram constantes essas amizades não prosperaram como as da geração de seus pais, suas relações sociais eram baseadas e mantidas através de meios eletrônicos. Em suas mudanças notou que os vizinhos não olhavam suas vidas como um todo, tinham como principio que a nova vida era o que interessava, como se um novo capitulo ao ser escrito, deixasse os anteriores sem muita importância. Esse aspecto efêmero das relações de amizade e de pouco senso de comunidade é uma das principais preocupações de Rico, pois afetam diretamente sua família. Sente que o tempo é escasso para lidar com seus filhos, para curtir suas vidas, como se houvesse abandonado sua prole ao destino, já que não pode programar suas atividades ou encaixá-las com as deles.

Apesar de não abrir mão do novo estilo de vida, sente falta de alguns velhos costumes que seu pai colocara em suas vidas quando era criança como, por exemplo, a disciplina e a ética, que sentia não poder oferecer a seus filhos como princípios juntamente com o conceito e exemplo de mobilidade social ascendente que ele queria que seguissem. Rico sentia-se impotente em relação ao curso de sua vida, pois planejar algo em um mundo onde a instabilidade e a superficialidade imperam não é fácil. As qualidades que fazem de alguém um bom profissional não são as mesmas que formam um bom caráter. A falta de concretude desse modelo de vida não permite que se tenha tempo para florescer dentro das relações, o caráter, a lealdade e a amizade verdadeiras. Esse dinamismo exigido pelo mercado não permite a dinâmica de conquistar confiança nos moldes naturais, passo a passo, dia a dia, ano a ano. O denominado capitalismo impaciente não prevê paradas para relacionamentos e aprofundamentos destes, é necessário retorno rápido, lucros altos em períodos menores. As relações do tipo rede, formadas para dar estrutura ao trabalho são frágeis, podem ser desestruturadas, mais facilmente redefinidas como se necessita e renovadas de acordo com o momento, isso exige constante abertura às mudanças e a transformação, é necessário criar uma estrutura psicológica e emocional que suporte essa velocidade.

A mentalidade de “não há longo prazo” destrói a possibilidade de criação de laços afetivos realmente estruturados, dificulta a formação de vínculos e de formar princípios como a confiança, a lealdade e o compromisso, tanto na vida profissional e social como na vida pessoal, pois esses princípios necessitam de tempo para surgirem e se enraizarem. Os laços criados são frágeis, facilmente quebrados, a confiança que se põem numa relação de trabalho não é a mesma necessária a vida pessoal. Não se comprometer, não se ligar, mudar constantemente estão na ordem do dia na atualidade.






No texto do Bauman, Modernidade Liquida, capitulo Trabalho, ele traça um paralelo ao texto de Sennett, para evidenciar essa semelhança discorremos abaixo sobre o texto de Bauman.

Na cidade onde mora há mais de 30 anos, o autor avalia a passagem do tempo, as mudanças sociais, refletidas na arquitetura, com sua imponência e tentativa de existir para sempre, característica da sociedade industrial do século XIX, sociedade esta que mantinha em seu seio as idéias de prosperidade, engrandecimento e progresso, baseadas em suas experiências e ações permanentes. Sabiam, no entanto, que toda mudança teria seu tempo de amadurecimento, de solidificação, de realizar-se, viriam de forma persistente e lenta, mas ocorreriam.

Essa mentalidade de solidez começou a mudar nas primeiras décadas do século XX, com um racionalismo implantado nas empresas, com o advento da administração cientifica e com os métodos utilizados por Taylor para aumentar a produção, com o Fordismo implementando a linha de montagem e comprando a mão de obra por um preço maior que os seus concorrentes, visando manter seus funcionários longe da grande rotatividade que existia na época. Também já se falava em abandono do passado, como Ford diria “A historia é mais ou menos uma bobagem”, foi um sinal para o abandono da tradição e da constância na vida daquela sociedade.

Entrando mais no conteúdo principal do texto, vamos tratar do trabalho e das mudanças que sofreu, num tempo mais histórico, que compreende uma retrospectiva desde a Revolução Industrial, feita pelo autor de forma extremamente clara e coerente. Primeiramente, a definição de trabalho no século XVIII, encontrada em dicionários da época, mostrava-o como uma ação dirigida às necessidades da comunidade, mais à frente, com o estabelecimento concreto das indústrias e seu funcionamento sem regulamentação em termos de relações de trabalho, em que a idéia relacionava o grupo de trabalhadores e operários também como trabalho e pouco depois foram incluídos nessa definição os sindicatos.

A utilização do trabalho como mercadoria, a constituição de uma classe de trabalhadores e a visão dessa força como a principal fonte de riqueza e bem estar naquele momento, deu ensejo ao fortalecimento dos sindicatos, tornando a luta de classes política. O trabalho e os sindicatos tiveram suas ascensão e queda em conjunto.

É necessário salientar também, que alguns pesquisadores definem as desigualdades inerentes ao processo de modernização, entre elas as desigualdades entre rendas e padrão de vida dos povos, como produtos dos dois últimos séculos, aonde as discrepâncias das rendas per capitas chegaram a ter diferenças de 50 vezes entre os paises ricos e mais pobres em décadas recentes. Esse distanciamento econômico se deu pelo estilo de vida que foi mudando e pela busca do capital em manter os ricos mais ricos e a pouca preocupação com os menos favorecidos, usando o individualismo como arma de segregação.

Um fato que, historicamente, delineia muito bem as mudanças de comportamento nos últimos séculos é a Revolução Industrial, que marcou a separação dos trabalhadores de seus locais de trabalho, de sua moradia, lazer e grupo social, num estilo de vida único, indivisível, para viverem a mercê da compra de sua força de trabalho por parte do capital. A partir desse momento, o trabalho tornou-se uma mercadoria, como qualquer outro produto, a força de trabalho passou a ser uma peça, podendo ser movida com seus portadores (trabalhadores) para outros locais, para outros usos, que trariam mais lucro às industrias, era rearranjada da forma que mais conviesse aos patrões, movida e manipulada sem levar em conta que essa força de trabalho era pessoas. Para conseguir o poder sobre os trabalhadores, foi necessária a desconexão com a totalidade a qual pertenciam, colocando fim ao estilo de vida campesino, quebrando a ligação com a terra e a riqueza produzida a partir daí, essa operação visava fornecer mão de obra abundante para as indústrias que ora surgiam. Foram criadas condições para o estabelecimento do capitalismo industrial provocando, em primeiro momento, uma ociosidade, de certa forma calculada, que buscava tirar os trabalhadores de suas raízes, deixando-os vagando e sem patrão para serem vistos como portadores dessa força de trabalho e fonte de riqueza.

Estava implantada uma nova idéia de poder, tudo era construído em escalas muito grandes, para simbolizar a solidez, racionalismo, indestrutibilidade e perpetuação. Esse estilo refletia-se nas fabricas e construções da época. Nesse momento histórico, surgem industriais como Ford, seguindo conceitos já consagrados por Taylor, em sua busca perene de regular o funcionamento da fábrica, fazê-la produzir mais e diminuir o tempo de produção para obter mais lucro. O industrial cria o conceito de linha de montagem, tornando a especialização ainda mais conveniente para seus planos. A forma que ele usou para manter seus funcionários em sua fábrica e torná-los cada vez mais dependentes (aumentando seus salários com a desculpa de que eles comprassem seus carros), mostra claramente a mentalidade existente na época, da manutenção do mesmo quadro o maior tempo possível. Nesse momento também o Estado passa a ser mais atuante como forma de manter a mão de obra disponível e saudável para o capital e que esse tivesse condições de comprar a força de trabalho. Vem daí a idéia de Estado de Bem Estar, pois ele mantinha o quadro de desempregados como uma forma de trocar as “peças” que o capitalismo exigia (era como se fosse uma operação de limpeza e saúde usada para manter longe das empresas o lixo social que não mais interessava ao capital), mantendo os de prontidão, regulando, a priori, uma relação sem a qual o capital e o trabalho não existiriam, pois essa dependência a que os dois foram relegados tirava a liberdade tanto de um quanto do outro, sem o capital não existe trabalho, sem trabalho não existe capital.

Até esse momento podemos comparar esse processo com a vida e período de tempo representado por Enrico, no texto de Richard Sennett. A partir do momento que o fim do campesinato significou a ociosidade e uma oferta de mão de obra farta, o capital usou-a para se fortalecer e fomentar cada vez mais o afastamento do estilo de vida antigo, previsível, constante e moderado. A liberdade, que a principio parecia vir com essa desconexão provou-se falsa, pois os trabalhadores não poderiam ficar muito tempo sem senhores em suas vidas, eles sujeitaram-se a uma nova ordem imposta pelos novos patrões, uma ordem calculada, produto de uma nova ideologia, voltada ao racional, ao pensamento e a exploração dessa mão de obra de forma mais eficiente. Acontece aqui uma liquefação da realidade, um estilo de viver que fora regido por conflitos e crises no inicio do século XX. As turbulências causadas pelo “Crunch da bolsa” e pelas guerras entre 1900 e 1945 tornaram a vida econômica e social turbulentas, principalmente nos paises desenvolvidos. Após muitas exigências do mercado de não interferência do Estado, uma eterna luta por uma liberdade de fazerem o que bem entendiam, no inicio do século XX, esse mesmo mercado exigia a intervenção do Estado em sua economia para salvar os especuladores e a economia na crise de 1930. Assim ficou definida mais uma função do Estado de Bem Estar, socorrer o setor financeiro e as elites em momentos de crise;

Sennett localiza essa mudança de mentalidade a partir do fim da segunda guerra mundial, onde houve uma tentativa de restabelecer a ordem antes vigente, estável e previsível, com o fortalecimento dos sindicatos e as grandes corporações, garantindo o Estado de Bem Estar, criando uma “estabilidade relativa”; essa idéia tornou o conflito ou luta de classe, perpétuo, em uma convivência funcional. Mantendo unidos os dois setores, antagônicos, por uma dependência mutua.

Nesse momento, podemos contar a partir da década de 70, com o advento da globalização e da crise do petróleo, essa separação dos estilos de vida, esse novo lapso de tempo assemelha-se com a vida de Rico, o filho do faxineiro do texto de Sennett, que, na sua busca incessante para manter-se produzindo, simboliza também esse estado liquido da modernidade e a busca por solidificar essa nova visão de que tudo tem que acontecer em curto prazo, que as mudanças são urgentes e que não é mais possível manter-se estacionado por um tempo além do necessário é preciso agir sempre, competir e ganhar da concorrência mesmo que essa concorrência fosse na vida social. Como Rico, a sociedade passou a viver em função de mudanças cada vez mais constantes, exigindo assim uma flexibilidade que fica demonstrada nas buscas por novas oportunidades, carreiras mais rápidas, autonomia profissional e por contratos de trabalho de curto prazo.

A partir da década de 80, principalmente, com a idéia de retomar o ideal liberal, tem inicio aí uma variação nova do capitalismo, comumente tratada como Neoliberalismo, pois o mercado buscava a liberdade para conduzir a vida econômica e social da forma que bem entendesse, exigindo novamente uma inércia cada vez maior do Estado e, conseqüentemente, a entrega dos bens e patrimônio públicos ao setor financeiro; as funções do Estado deveriam ser cada vez mais cumpridas pelo privado, desde que dessem lucro, pudessem ser transformadas em mercadoria ou pudessem ser geridas de forma a trazer dividendos aos seus investidores.

Uma era de incertezas, onde o desafio pode vir de qualquer lugar, de qualquer lado e de qualquer situação, transformando-se em um desastre que pode devastar uma vida ou uma carreira, sem avisar, sem uma lógica a ser seguida para ser evitado. Essa mesma incerteza fez o que John Locke e Thomas Hobbes expunham em seus trabalhos como lógica a ser seguida pelas pessoas e pelas empresas levou a um individualismo estruturado, tornando seres humanos menos solidários, desunidos e distantes, cada vez mais, de interesses comuns e da defesa desses interesses. Isso refletiu na vida social, econômica e política, levando a uma apatia social em relação à política, segregando o espírito militante e a ideologia política.

Rico é o exemplo claro de como ficaram os indivíduos nessa sociedade, com medo, ansiedade, angustias e sozinhos, não tem mais um endereço, o mundo globalizado é sua moradia, não existe amizades de longo prazo, as que existem são mantidas através dos meios eletrônicos, mas não tem uma relação muito real e pessoal, são mais relações de networking, onde o que impera é a possibilidade se serem úteis profissionalmente ou financeiramente uns aos outros através de troca de favores.

Nesse momento, o Estado não consegue conter a sanha do mercado, abre mão de seu papel regulador das relações de trabalho em varias ocasiões, para não perder a imagem de bom gestor, faz vistas grossas aos desmandos do capital, que não é mais baseado na produção, mas na especulação financeira, na enganação e na projeção de lucros futuros sem bases sólidas (aqui cabe um aparte, uma informação sobre o sistema financeiro: somente 10% dos valores negociados no mundo inteiro, segundo uma entidade considerada a associação dos bancos centrais do mundo, são verdadeiros, ou seja, com base nesses números tem-se que os 600 trilhões de dólares circulando em transações são na verdade somente 60 trilhões, se muito). Essa ideologia que é cada vez mais inserida na vida dos cidadãos comuns, de que quanto mais liberdade econômica - a idéia Neoliberal – mais riquezas são distribuídas, cai por terra com as divulgações de que cada vez mais pessoas sofrem com a fome no mundo (os últimos dados da ONU revelam 925 milhões passando fome, ou quase 15% da população mundial). O Neoliberalismo não é sinônimo de igualdade, como pregam os seus seguidores, mas sinônimo de menos pessoas no topo da pirâmide, da manutenção dos mesmos 1% mais ricos cada vez mais ricos e de uma desigualdade social cada vez maior.
Com a precarização do trabalho, a falta de boas perspectivas e menos garantias, essa idéia de curto prazo só tende a favorecer ao capital, já que tem a mão de obra abundante, um Estado fraco que não regula como deveria, que coloca o setor privado em primeiro lugar em detrimento a sua população e sem a força da união dos trabalhadores, com seus sindicatos cada vez mais amolecidos pela cooptação do Estado e dos patrões, a vida profissional é um momento fugaz e sem perspectivas de uma vida longa.

O capitalismo de agora não tem algemas, não é aprisionado por fronteiras e nem é preso a normas, ele é capaz de estar baseado em um lugar e exercer grande influência em outros. Essa sua agilidade, baseada nas comunicações eletrônicas, torna-o livre para ir onde bem quiser, quando quiser e como quiser, pode ser comparado ao personagem Rico, que muda de acordo com os ventos do capital. Vive como se morasse em uma barraca, tendo que repensar sua vida sempre, mudando a mercê das suas necessidades financeiras e de realização. Não constrói vinculo, a despeito de ter vivido e vivenciado os princípios de seu pai, que prezava o vinculo estabelecido com o seu antigo bairro, com seus antigos amigos e com a família, fazendo de sua vida profissional fonte de sobrevivência, o filho vive com base em um relógio que corre mais do que o tempo real, é necessário mais tempo para fazer, ter e conquistar, com a mesma desculpa de levar o sustento para a família, mas esse sustento é muito mais amplo, mais exigente, mais caro. Os laços criados, quando o são, são frágeis, não duram mais que alguns meses ou anos, não existe mais laços por toda a vida, amizades que podem ser encontradas nos mesmos lugares de sempre, é a mentalidade de “curto prazo”.

São esses laços frágeis que estão nas relações de trabalho atuais, a decisão passou a ser unilateral, com o capital numa situação cômoda para trocar as peças de seu jogo quando bem entender, descartando quem não lhe é mais conveniente e colocando outros que são mais fáceis de manipular ou que se dispõem a fazer tudo pelo patrão. O capitalismo tornou-se independente de um relacionamento com a força de trabalho, principalmente a local, o que importa não é como uma localidade vai ficar com ou sem uma determinada empresa, mas como seus acionistas vão ver essa situação e qual o retorno financeiro. Com as facilidades e mobilidade do capital, a falta de fronteiras locais e as possibilidades de não ter que movimentar nada físico para determinados locais, o capitalismo ficou livre do peso de estacionar em um só lugar, vai onde o Estado se compromete em manter uma certa liberalidade ou promete não interferir, com isso o Estado passa a manter de forma bajuladora e incoerente, laços com o capitalismo, sob a ameaça de retirada de suas fábricas e de seus investimentos. O poder dos trabalhadores praticamente inexiste, sem união, individualistas, todos querem somente que suas vidas estejam caminhando, não importando o quanto isso custe aos outros e ao futuro.

Essa idéia de capitalismo leve pode ser vista cada vez mais em aeroportos, nas ruas e nos escritórios de grandes empresas, o funcionário tem somente uma pequena bagagem e onde quer que esteja, mantem-se conectado ao mundo dos negócios através de seu laptop, celular ou outro aparelho que o valha. Levam suas vidas em HD’s, pen drives e mídias portáteis. Seu principal trunfo é entender as leis do mercado, seus valores são calcados no presente, sem preocupação com o futuro, sua busca por prazer e realização são egoístas, prezando sempre a individuo em detrimento do coletivo. O que dá idéia de poder a esses executivos e funcionários do capital leve é o numero de contatos importantes e que podem render-lhes possíveis negócios. A constante busca dessa geração é pelo ter, pela ascensão social, por objetos de desejo e por conquistar um estilo de vida da classe dominante, esse estilo de vida mostrado exaustivamente na TV e nas propagandas, estimulando o individualismo, o crime, a falta de ética e o descolamento da realidade e dos princípios que regem uma vida harmônica, como por exemplo, amizade, honestidade, família etc.O capital deliberadamente favorece e incentiva esse desengajamento da realidade e do social, pois quanto menos sólida e mais fluida são as relações e organizações, mais fáceis de manipular e influenciar.

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