Discussão sobre o livro Globalização - as conseqüências humanas de Zigmunt Bauman.

Bauman é surpreendente, a despeito de sua escrita cíclica, traz em suas obras verdades não ditas e informações que estão por aí disponíveis, porém inauditas.

Nesse texto, sobre esse livro que tem muito a mostrar, também um dos primeiros textos, já que o tema merece reflexão profunda e longa, dou minha colaboração e opinião sobre o tema, no entanto, mais preso à obra, e a principio, sem inserção de informações de outras fontes.

Ser local num mundo globalizado é sinal de privação e degradação social. Os desconfortos da existência localizada compõem-se do fato de que, com os espaços públicos removidos para além do alcance da vida localizada, as localidades estão perdendo a capacidade de gerar e negociar sentidos e se tornam cada vez mais dependentes de ações que dão e interpretam sentidos, ações que elas não controlam — chega dos sonhos e consolos comunitaristas dos intelectuais globalizados.


Quando li esse parágrafo da introdução, pensei, essa é uma forma de ver a Globalização que não é mostrada para a maioria das pessoas. Ao colocar nesses termos a questão, Bauman chama a nos perguntarmos o que realmente é a Globalização? Em resposta ele coloca que é a separação entre os globais e os locais, ou entre o capital, agora sem corpo, sem matéria, que pode viajar por onde bem entende, pois a ele não é mais imposta fronteira, ao passo que os locais, os pobres, a mão de obra de produção e os cidadãos das nações, vêem suas riquezas sendo sugadas e esvaindo-se sem poder fazer nada.

A degradação é, nesse sentido, percebida de forma cruel, pois, como gafanhotos, os capitalistas pousam em um território, impõe sua forma de agir, exige tudo daquele lugar e sai sem culpa, deixando para trás um rastro de destruição e depredação. Ficam os habitantes, sem empregos, sem condições de movimento, sem recursos, perdidos, o Estado continua cumprindo o seu papel nessa peça, lixeiro e capacho do capital.



Outro ponto que, já no início do livro, é colocado para reflexão:

E no entanto — como colocou Cornelius Castoriadis — o problema da condição contemporânea de nossa civilização moderna é que ela parou de questionar-se. Não formular certas questões é extremamente perigoso, mais do que deixar de responder às questões que já figuram na agenda oficial; ao passo que responder o tipo errado de questões com freqüência ajuda a desviar os olhos das questões realmente importantes. O preço do silêncio é pago na dura moeda corrente do sofrimento humano. Fazer as perguntas certas constitui, afinal, toda a diferença entre sina e destino, entre andar à deriva e viajar. Questionar as premissas supostamente inquestionáveis do nosso modo de vida é provavelmente o serviço mais urgente que devemos prestar aos nossos companheiros humanos e a nós mesmos. Este livro é, antes e acima de tudo, um exercício de formulação de questões e de estímulo ao questionamento — sem a pretensão de estar formulando as questões certas, todas as questões certas e, o mais importante, de estar levantando todas as questões já formuladas.

Uma das grandes falhas das últimas gerações é não ter os questionamentos constantes sobre tudo e todos, essa premissa que permite o crescimento e ampliação dos horizontes. O perigo disso, vemos no dia a dia, apatia, desânimo, desencanto e frustração, parte do comportamento cotidiano do cidadão comum. É como se não precisássemos pensar, pois temos um grupo que está sempre pronto a colocar nas nossas bocas as respostas que lhe são convenientes, conta com o poder econômico, hegemonia ideológica, a falta de fiscalização e de bom senso da sociedade.
Esse grupo que são os globais, a elite, os que não têm mais necessidade de estar em algum lugar para ter o poder sobre aquela localidade, esse grupo seleto, onde os que ascendem se sentem dentro, mas não entram de verdade, pois é preciso ser elite desde sempre ou demonstrar o quanto se quer pagar para se sentir dentro. Quando aparecem questionamentos, os meios de comunicação, sob comando dessa elite, desviam o foco, força matérias e cria distrações, evitando assim que o cidadão se sinta parte dessa ordem e queira questionar. Vemos isso claramente, quando acontece algo de grande gravidade, desde as grandes operações de desmanche de quadrilhas aos escândalos políticos, passando pelos dramas cotidianos, tudo isso se torna irrelevante quando transformam esses assuntos em piadas, com programas de humor proliferando, utilizando da audiência para desmotivar os questionamentos e posicionamentos, tudo vira chacota, não existem assuntos sérios o suficiente para prender a atenção por mais de alguns minutos, não existe olhar crítico, não existe busca de informação e de finalização dos processos.


Proprietários ausentes, marco II:
No mundo do pós-guerra espacial, a mobilidade tornou-se o fator de estratificação mais poderoso e mais cobiçado, a matéria de que são feitas e refeitas diariamente as novas hierarquias sociais, políticas, econômicas e culturais em escala cada vez mais mundial. E para aqueles no topo da nova hierarquia, a liberdade de movimento traz vantagens muito além daquelas resumidas na fórmula de Dunlap. Essa fórmula considera, promove ou rebaixa apenas aqueles competidores que se possam fazer ouvir — aqueles que podem exprimir suas queixas e provavelmente o farão, transformando-as em reivindicações. Mas há outras conexões, também localmente limitadas, interrompidas e deixadas para trás, sobre as quais a fórmula de Dunlap mantém silêncio porque é improvável que se façam ouvir.

Um dos pressupostos para a existência do capitalismo tal qual é concebido e vigente é a manutenção da sociedade em tal estado de imobilismo que a mesma se convence de não haver outras possibilidades. A estratificação (diz respeito a divisão da sociedade em classes ou camadas) referida aqui pelo autor coloca os de baixo numa situação de total falta de perspectiva em relação a mudança de status, ao mesmo tempo que as camadas de baixo querem ter o mesmo que os mais poderosos, essa tentativa de conseguir cruzar os limites dessa escala social leva ao egoísmo e a política do individualismo ou do “se dar bem” em detrimento da maioria.

Essa mobilidade conseguida pelo capitalista deixa-o livre para ir onde bem entende, deixando para trás seu rastro de exploração, quando bem lhe convier, sabendo que os locais estão aprisionados em suas vidas e condições, restando lhes somente arcar com as conseqüências funestas e vis da política econômica e financeira do grande capital. Os habitantes das nações por onde passam os “gafanhotos” capitalistas, têm suas vidas reviradas, no entanto, acreditam que é sempre bom para o país essa ideia de oferecer tudo que o território tem a oferecer para as grandes corporações, acham que a visão de consumo, implementada pela mídia a serviço do setor privado e detentor do sistema financeiro, é o que tem de melhor para suas vidas. Continuam em suas vidas enquanto esse grupo que detém o poder viaja para onde querem, não tendo obstáculos territoriais e, nos últimos anos, nenhum obstáculo físico. Suas jornadas não precisam ser mais reais, utilizam da tecnologia para estarem em vários lugares ao mesmo tempo, fazem do mundo sua casa, mesmo não estando presentes em corpo nos locais onde dão ordens.

Além dessas vantagens, a nova elite mantém todos que se aventuram em busca do mesmo sucesso e garantias, elevam o grau de dificuldade a tal ponto de não permitir mudanças significativas no status social, ademais, protegem-se com um afinco e dureza que chega a ser brutal, comprando homens, armas e tecnologia para manter longe de seus perímetros os possíveis intrusos. Essa política hoje conhecida como busca por segurança também é a forma de manter-se longe dos indesejados, dos pobres e dos aldeões, que buscam em seus sonhos galgar a mesma escala. Com efeito é que vemos em todos os lugares as casas protegidas, prédios com sistemas futuristas, condomínios fechados e uma indústria construída à margem de cada nova necessidade, ou seja, se é necessário segurança, aparecem homens sempre dispostos a oferecer seus serviços truculentos para quem possa pagar, milícias são formadas constantemente, empresas oferecendo segurança em todos os níveis e a constante evolução da tecnologia para manter afastados os miseráveis.

Um dos resultados desse tipo de política é ver o Estado abrindo mão de seu papel de mantenedor da coisa pública, colocando-se a serviço do capital os bens e espaços públicos, onde existe uma praça, prédio ou terreno público, existe uma possibilidade de entrega aos que podem pagar. O abandono dessas áreas é proposital, com o intuito de mostrar a sociedade que não é possível o Estado fazer muito para melhorá-las, mas se forem entregues a quem tem poder econômico e financeiro, tudo fica melhor, essa é a mensagem real das políticas engendradas em todos os níveis na atualidade. Essa busca de isolamento, para os dois lados apresentam conseqüências, para uns, por terem como pagar e se manterem dentro de seus muros, certa falta de liberdade, o que não é nem sequer questionado; para os outros, ficarem fora dos muros é um isolamento tão grande quanto para o primeiro grupo, no entanto, esse último paga com suas próprias vidas e liberdade. Esses últimos também têm outro destino, as prisões, sejam elas reais, onde se colocam os indesejáveis sociais, ou a prisão de não ter como conquistar ou comprar bens.

Comentários

Unknown disse…
Ailton cde um unico texto sobre nosso trabalho com o cine cara?
Sentir falta disso...bom e por ultimo gostei do seu blog.
Abrçs