Participação do negro na teledramaturgia e na sociedade.

Meu amigo Bluno, isso mesmo, ele existe, rs. Enviou esse link sugerindo que colocasse no blog, atendendo ao pedido, segue minhas impressões e opiniões sobre o tema.

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2008000300016&lng=pt&nrm=iso

Já há muito tempo o mito da democracia racial vem sendo questionado, contestado e através de pesquisas e estudos está cada dia mais sendo deixado de lado. Essa questão das telenovelas é clássica, como em todos os outros setores da sociedade, negro normalmente é só coadjuvante, quando muito é colocado de forma isolada em algum grupo com maior poder econômico onde é obrigado a relegar suas origens ou, mesmo tendo posição igual aos não negros, é inferiorizado ou se sente relegando sua ascendência. O grande equívoco é usarem a porcentagem tão pequena de negros que ascendem socialmente para dizerem que os outros tantos não o fazem porque não querem.

Não se faz menção à miscigenação em nenhum meio cultural ou de comunicação, não no intuito de instruir, de debater o racismo. O negro é relegado ao papel, tanto nas tramas quanto na realidade, de subalterno, quase sempre ganhando menos e fazendo parte de um grupo de invisíveis. Só se fala em mestiçagem quando o assunto é provar que o país não é tão desigual quanto se vê; quando se fala em nação, com um povo, território e cultura própria, o Brasil se torna um país pequeno, pois não valoriza seu próprio povo e não foi capaz de fazer uma luta para firmar sua identidade nacional, deixando a cargo dos políticos e da elite a criação dos símbolos e da ideologia que deveria nortear nossa afirmação como país e nação. Esse traço de dominação permanece até hoje e tem sua principal função a de manter a mesma ordem antiga e arcaica dos coronéis e donos dos currais.

Continuamos tendo uma ideologia fortemente baseada no branqueamento e europeização dos últimos dois séculos, de forma a não possibilitar um olhar para a realidade e ver as políticas e atitudes racistas, o famoso preconceito de ter preconceito. Isso nos afasta de cuidarmos das origens desses problemas. Mantemos uma espécie de distância dessa situação, para não piorá-la, é o que dizem. Mas sem enfrentar essa questão de frente, mostrar realmente as diferenças de tratamento a que são submetidos os afros descendentes ou negros, essa visão de que temos uma democracia racial vai perdurar, de forma falsa, demagógica e a favor de uma ideologia dominante e incontestavelmente embranquecida, levando essas questões a um ponto de ebulição que pode tomar rumos sem precedentes.

A visão que a TV quer passar, sem sombra de dúvidas, é a que tem perdurado nesses séculos de dominação branca, não existe um questionamento nos meios de comunicação, sai pesquisa, entra pesquisa, e o que se vê na TV é falarem mal das cotas, mudarem o rumo das idéias embutidas e defendidas pelos movimentos negros.

Nesse atual contexto vemos pessoas se dizerem não racistas, mas discordarem veementemente com as políticas afirmativas, tentando diminuir a validade dessas ações que visam diminuir a disparidade social. Por essa linha, evidencia-se a qualidade do racismo no Brasil. Perverso, ele difere do racismo em outras partes do mundo, pois em outros países ele é totalmente visível ou é bem perceptível, no nosso caso, o grau de sofisticação do racismo é tal que o racista não se sente mal pelas suas atitudes contra grupos ou etnias, muito menos contra indivíduos e o ofendido, ou quem sofre racismo, não se revolta mais por essa situação já ser cotidiana, por estar ideologicamente cooptado em razão dos meios de comunicação e formação. Chega-se ao ponto do negro defender a ideologia embranquecedora ou de discutir a validade das políticas afirmativas, usando palavreado e chavões clássicos de uma sociedade branca, elitista e racista, que diz que todos são iguais, mas todos não são tratados como iguais.

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