debate sobre coluna nossa antena, da epoca de fev/2010

Caro Ailton

Fiz uma série de 7 reportagens sobre a China há dois anos - onde coloquei todos os pontos de vista de pessoas entrevistadas por mim. Passei três semanas viajando pelo país.

Eu detestei a China. Regimes que rasgam folhas de revistas que chegam às livrarias e proíbem e censuram tudo, filtram todas as informações em nome do Estado supremo - em troca de bem-estar e consumo para a minoria, quando a enorme massa é mantida em pobreza e ignorância extremas nos rincões remotos. A China é um país terrível.

Eu jamais poderia ser política. As concessões exageradas violentam as convicções. Ninguém mais acredita, a esperteza ganha da honestidade.

Um abraço


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From: ailton amaral [mailto:ailtonamaral@hotmail.com]
Sent: Mon 3/8/2010 5:36 PM
To: Ruth de Aquino - Diretora Sucursal Revista Época RJ - Editora Globo
Subject: RE: sobre artigo no nossa antena da época 8/03/2010







Cara Ruth,




Agradeço o tempo despendido para responder minha mensagem, isso faz com que eu a respeite muito mais.



Em primeiro lugar, em momento algum, jamais ousaria, colocar em suas palavras que apóia ou é favorável aos crimes praticados pelos americanos, muito menos cito que você coloque bush em seu rol de admirados, apesar desse presidente ser somente uma das peças usadas pelo sistema norte americano, como é o novo chefe de Estado de lá, peço licença para te plagiar, você foi extremamente apressada em sua avaliação. Exponho simplesmente que a mídia brasileira não entra nessa discussão, não fala sobre atrocidades já reconhecidamente originadas do estilo norte americano. Mas é só um governo sul americano, oriental e do médio oriente, ou seja, 2/3 do mundo, fazer algo que não esteja dentro dos padrões americanizados ou europeizados, que toda a mídia cai de pau.



Ainda não vejo intervenção brasileira na crise de Honduras, como sinalizei na mensagem anterior, pode ser uma visão muito limitada de minha parte, mas oferecer abrigo e cometer erros diplomáticos é uma questão comum.



Em relação a liberdade de expressão, sou intransigente, mas a favor dos que realmente prezam pela isenção, pela verdade e tenham bom senso em sua atuação, o que não acontece muito em nossos veículos. Mas talvez seja interessante conhecer um pouco mais da história por trás da história, como a questão da RCTV, onde o grupelho de empresas midiáticas não contentes com um governo, legitimamente eleito, tentou um golpe e o próprio povo destituiu os golpistas. A mídia deveria sim seguir seu caminho, informando, fazendo com que as informações cheguem a todos e que todos possam simplesmente discernir.



Aqui o mesmo Sarney que você diz ter relações de amizade com o Lula, foi o que conseguiu concessões de redes de radio e televisão por seu apoio a ditadura de direita instaurada no país. Então, o lula não é um bom exemplo de ideologia nem de atitude, apesar de ter feito coisas que foram em número, maiores que seus antecessores, nem de como se deve agir como homem de Estado. No entanto, pragmatismo e esperteza fazem parte da história recente da França, Inglaterra e boa parte dos países europeus, também da Rússia. Os chineses nem se fala, só pensam em termos de esperteza, não olham para quem vai receber o que têm a oferecer. O mundo não tem uma critica tão veemente a eles, nem a imprensa brasileira.



E você está certa em relação a sua posição, acabei por esquecer que você é uma colunista, não faz reportagens, isso a isenta realmente da imparcialidade, apesar de eticamente você saber que sua opinião influencia milhares de pessoas como as que escrevem aquelas cartinhas água com açúcar na seção cartas da revista.



Falei sobre um livro que deveria ler para avaliar a questão da hegemonia americana, mas tem outra leitura que trará possivelmente bons resultados a você, sem querer colocar-me em uma situação superior, a revista Carta Maior.



Abraço.





Ailton Amaral



Por um mundo melhor e um futuro mais digno.



http://eissoaibyailton.blogspot.com <http://eissoaibyailton.blogspot.com/>



11 8227 4288
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Subject: RE: sobre artigo no nossa antena da época 8/03/2010
Date: Mon, 8 Mar 2010 14:32:41 -0300
From: raquino@edglobo.com.br
To: ailtonamaral@hotmail.com

Caro Ailton
Muito obrigada pelo interesse em Nossa Antena e pelos elogios - de verdade, sem ironia alguma.

Quanto ao texto em questão, é preciso lembrar que o sr escreveu quase o triplo de caracteres em sua msg do que o que cabe em Nossa Antena. Assim, o que costumo fazer ali, na última página de EPOCA, não é produzir uma tese, mas expressar um ponto de vista diante dos acontecimentos. Leitores são livres para concordar ou discordar. E eu respeito.

Se existe alguma inverdade neste último texto, publicado em Epoca, gostaria que me apontasse - não consegui encontrar nenhuma mentira denunciada em sua mensagem. O sr discordou de meu estilo. Natural. Estilos são pessoais e intransferíveis.

O sr tira conclusões extremamente apressadas, sr Ailton. Não há nada no texto que induza alguém a pensar que sou favorável ao governo Bush, a Guantanamo, ou a guerras. Minha posição sobre Honduras também não está ali. Eu disse apenas que, se Lula toma atitudes, e se posiciona em relação a Zelaya e Honduras, não tem o direito de alegar "princípio da não intervenção" em sua política externa com relação a regimes tirânicos como Cuba, Venezuela e Irã. Ou o presidente assume que diz o que pensa ou não diz o que pensa.

O Jornalismo que propaga mentiras deve mesmo ser levado à Justiça. Pelo que eu me lembro, elogiei Lula como presidente que respeita as leis e as instituições. E elogiei mais ainda o coordenador da campanha de Dilma. Nãp me recordo de o sr ter tomado nota disso.

Acho a liberdade de expressão um bem sagrado e lembro muito bem de amigos jornalistas como Herzog mortos como presos políticos.

Não vejo por que o pragmatismo econômico, ou a "esperteza" de nosso presidente, que o faz adular Sarney ou Ahmadinejad, por motivos políticos ou comerciais, seja algo que se deva aceitar. O Brasil já é hoje maior do que isso. Tanto é que faz frente à absurdamente injusta política de subsídios dos Estados Unidos.

Sociólogos de esquerda, intelectuais insuspeitos, jornais do porte do El Pais, todos foram unânimes em criticar a posição tomada por Lula em Havana - até mesmo a se envergonhar diante do que chamaram de cinismo. Eu acredito ter sido bastante elegante nesta coluna e ter dado a Lula e Dilma o benefício da dúvida.

Com todo respeito, já que o sr não é jornalista: reportagens são imparciais - mas colunas de opinião expressam uma OPINIÃO, seja em política, economia ou assuntos comportamentais, como família, sexo etc.


Um abraço cordial para o sr, continue a ser um leitor crítico e inteligente, e boa semana
Ruth


-----Original Message-----
From: ailtonamaral [mailto:ailtonamaral@hotmail.com]
Sent: Mon 3/8/2010 1:07 AM
To: Ruth de Aquino - Diretora Sucursal Revista Época RJ - Editora Globo
Subject: sobre artigo no nossa antena da época 8/03/2010

Prezada Ruth, como você está?





Em primeiro lugar, faço questão de esclarecer antes de comentar seu artigo, eu a admiro, como profissional, como cabeça pensante e, apesar das diferenças ideológicas claras e de não concordar com alguma retórica utilizada em seus textos, sou um admirador da forma que escreve, não estou falando do conteúdo, freqüentemente também ele é muito interessante, mas estou falando da forma, de como escreve. Sem ironia, continuo lendo sua coluna como uma das poucas coisas interessantes da revista.



Bom, em relação ao texto, gostaria de levantar algumas questões que julgo serem de bom senso falar sobre, seu texto "os amigos tiranos do Brasil de Lula", está permeado de frases com retórica irretocável, digo isso não porque não consiga discernir a intenção do texto, mas para a maioria tenho certeza que o apelo vai funcionar.



Vale lembrar que não sou partidário do PT, muito menos de Lula, ao qual eu digo sempre que nunca confiei, desde os anos 80, no entanto, você confunde Estado com governo, claramente numa tentativa de levar o leitor a aceitar sua tese como verdadeira; aqui tenho que concordar que 98% dos que lêem a revista, no mínimo, vai entrar nessa. Como escritora, você usa um artifício relativamente banal que é visto em filosofia e descrito como ad hominem, de forma velada, transforma o presidente em persona non grata em seu texto. Mas se fosse só isso seria realmente irrelevante, você estaria competindo nesse quesito com pseudo jornalistas como Mainardi e Azevedo, e, sem dúvida nenhuma, você não está no nível desse tipo de profissional. Entretanto, coloca seus sentimentos de ojeriza pelo homem público Lula no texto como se ele fosse um projeto ditadorzinho que apóia ditaduras, expõe os fatos colocando o país nas ações do presidente e vai mais longe, fala de um país que não é o de todos, mas o de Lula, tentando dar um tom pejorativo aos atos desse.



Em alguns momentos mostra o presidente como um amigo incondicional do presidente do Irã, esquece que a mídia vive dizendo que a mistura de público com privado levam a corrupção e desmandos, entretanto, critica a política de Estado que o presidente já vem adotando desde seu primeiro mandato, usando de sua lábia para convencer o mundo a comprar nossos produtos.



Sua crítica ferina, contundente, mas irrepreensível das ditaduras são eco de boa parte da população do mundo livre, de minha voz inclusive. Também penso que intervir na cultura de um país que não está pedindo ajuda nem está em guerra civil, não é de bom tom em momento algum. Nesse caso, mais que qualquer outro representante de nações, o Lula tem se saído relativamente bem. O que é interessante nessas colocações, tanto sobre Chávez quanto sobre os irmãos Castro, é não ver essa ira, raiva e indignação quando se trata dos países ditos desenvolvidos. Até hoje, principalmente na Época, não vi um artigo que chamasse atenção para as ações dos EUA, com sua intolerância, intransigência e desrespeito pelos direitos humanos. Não está tão distante a prisão de Guantánamo, nem as ditaduras financiadas, orquestradas, avalizadas e montadas pelos americanos. Uma única ditadura de direita matou em poucos anos muito mais gente inocente, civis e lutadores, do que os Castro em mais de 50 anos de comunismo. E olha que eu não apoio nenhum tipo de ditadura, mesmo as que demonstram apoio popular, não vejo como o ideal para uma nação. Uma ressalva se faz necessária, não vejo o Chávez como um líder confiável, mas daí a criticá-lo por colocar fim na farra das concessões só porque não temos essa coragem, é incorrer numa grave falha de avaliação. Não que eu concorde com fechamentos de veículos de comunicação, aliás, luto contra isso, mas é um Estado de direito, todos devemos cumprir as leis, menos no Brasil que as concessões não são renovadas, são usurpadas, ou você ouviu algum debate sobre esse tema quando foi o momento de renovação de concessões no Brasil? Aliás, é sabido que toda a mídia, hipocritamente, assume como normal que veículos de comunicação estejam nas mãos de políticos corruptos, empresários inescrupulosos e gente de índole suspeita.



Ao representante do Irã foi reservado boa parte do seu texto, ou a relação Brasil/Irã, colocando inclusive uma análise que considerei, particularmente, infantil e de um a pequenez que não são de seus hábitos, quando fez a avaliação do aperto de mãos dos presidentes, coloca como se Lula e Ahmadinejad fossem grandes amigos, mais do que isso, conspiradores para criarem uma bomba atômica, ao passo que é claro a quem acompanha um pouco de política que o nosso presidente é só um vendedor, no jargão de mercado, bem picareta por sinal. Ele não quer saber quem é quem, mas ele quer que a balança comercial esteja equilibrada ou pendendo para o superávit, exigências do FMI, dos investidores e dos banqueiros, por sinal, já que todo o dinheiro que vem dessas operações vão para o pagamento da dívida pública. Mas daí a dizer que o aperto de mãos teve a conotação de "camaradas de fé", foi de um mal gosto tremendo.



Se você fizer uma análise dos presidentes americanos nas últimas três décadas e colocar as coisas dessa mesma forma, vou concordar com você, aliás, o presidente brasileiro não vende armas e tenta deixar o caminho aberto para a invasão das drogas, o que não é possível dizer dos americanos, que invadem países sem um pingo de escrúpulos e seus presidentes ainda mentem descaradamente a sua população como se fossem melhores que os outros. Sugiro uma leitura simples, de um livro escrito na America, "o livro negro dos EUA" de Peter Scowen, assim pode ser que esse texto que escreveu tenha um outro formato nas próximas edições.



Você chama à luz a questão de Honduras, lógico que caberia uma avaliação mais profunda da postura do chefe do executivo brasileiro, imagino que mais por ideologia política do que por uma relação mais isenta entre países, ele apoiou e manteve seu apoio ao presidente deposto daquele país. Esse último pediu asilo na embaixada e por não ter uma situação definida(asilado ou expulso) por não ser reconhecido pelo regime ditatorial de direita que lá se instalou, cometeu-se erros banais de diplomacia, só que não invadiram o Estado de Honduras, não mandaram soldados para lá e não forçaram a saída do golpista, no entanto, colocar essa informação como tentativa dissimulada de manchar mais ainda as ações do governo foi muito mesquinho.



Em relação ao Irã, não sei qual o problema de esse país querer ter uma bomba nuclear, países tão radicais quanto eles têm a bomba e ameaçaram usá-la em várias ocasiões, Índia e Paquistão estão entre eles, o problema maior não está aí, está sim na montagem feita para derrubar o regime islâmico daquela nação, por convicção americana, que busca mais um pretexto para entrar em guerra com eles, que, diga-se de passagem, foram financiados pelos EUA quando lhes convieram. Então, apesar de não achar simpático o mandatário daquele país, existe um lance chamado soberania, que a maiorias dos países tentam preservar, mas são invadidos pelos aliados sem nenhuma clemência. Afinal, vamos aceitar bases militares em toda a America do Sul e vamos ficar quietos porque os americanos podem tudo? Sobre isso a mídia simplesmente não levanta o debate, jogam para debaixo do tapete porque são coniventes com mortes impostas pelas ditaduras de direita, mas não são capazes de tolerar um regime, mesmo que o povo não reclame, quando ele está mais a esquerda.



Com todo respeito, alguns questionamentos e comentários sobre o Fórum, ou farsa, montada pela grande mídia e citada por você, quem foi que deu a imprensa o poder que ela julga ter? manipulando informações, distorcendo fatos, raivosos como estavam nesse fórum, de um fascismo que beira a imoralidade, porque não querem um candidato da situação estão fazendo questão de demonstrar que o poder está em suas mãos. Que imprensa, afinal, Ruth, é a nossa, que se vende com a facilidade de um produto ruim? Porque esses mesmos veículos não estavam na confecom, estruturada para que todos participassem? Porque esse medo tão grande de cumprir sua missão com o apoio ou questionamentos da população. Você sabe as respostas e sabe também que a maioria dos jornalistas corroboram com os editoriais , com a linha de seus jornais, senão ficam sem empregos. A meu ver, jornalista só tem que trazer a noticia de forma isenta e sem ideologia, quem tem que avaliar e ter discernimento é o leitor, mesmo num país de analfabetos funcionais é importante que a mídia faça somente seu trabalho, não querendo derrubar governos e nem querendo interferir na forma de governar um país. Infelizmente, como diz um amigo meu, no Brasil não existe mídia de verdade, todas tem a mesma cor, marrom.



Abaixo segue um link que mostra o tipo de mídia que temos e comentários de quem estava no fórum de comunicação do instituto Millenium.



http://www.imil.org.br/divulgacao/clipping/a-conferencia-de-comunicacao-particular-da-direita-opera-mundi-020310/







Fico a disposição para esclarecimentos.





Ailton Amaral



Por um mundo melhor e um futuro mais digno.



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