Militares atuando no Rio são paraquedistas com experiência no Haiti

Unidade de pronto-emprego do Exército, tropa de elite da Força é composta por soldados profissionais com prática de combate real
Raphael Gomide, iG Rio de Janeiro | 26/11/2010 17:15
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/rj/militares+atuando+no+rio+sao+paraquedistas+com+experiencia+no+haiti/n1237840430169.html



Há muito os movimentos sociais e partidos de esquerda vêem trazendo reclamações e exigindo a saída dos soldados brasileiros do Haiti, em nenhum momento foram ouvidos. Pela própria falta de uma explicação lógica fornecida pelos comandantes e pelo governo, começaram a aparecer suposições do real motivo do deslocamento de militares brasileiros para a Minustah, que visava conter os focos de reação dos haitianos de uma forma nada transparente. Acusações de tortura e suspeitas de outros crimes cometidos por esses soldados brasileiros estouraram quando do suicídio do oficial que os comandava o general Urano Teixeira.
Alem dos crimes de tortura e estupro, havia muita tensão nessa época entre os haitianos, leia-se, os pobres, que moravam em favelas e periferia, principalmente, de Porto Príncipe, onde a maioria das tropas brasileiras foram alocadas, possivelmente para fazer daquele país e daquele povo um laboratório empírico de invasões para usar nos morros e favelas no Brasil.
Os direitos humanos no Haiti nunca foram respeitados, em parte porque não interessa ao sistema esse respeito, de outro lado porque aquele povo só precisava ser livre para decidir seu futuro e mostrar que uma terra composta principalmente por negros, o primeiro país a abolir a escravidão após uma revolta dos escravos em 1794, conseguiria se gerir sem intervenções e sem embargos. Para o sistema, o Haiti livre não é conveniente, pois ainda temos grande parte do capitalismo baseado no racismo. Um país que foi governado por um negro no inicio dos anos 1800, atacado pela França para retomar o poder, após a derrota dos franceses outro negro se nomeou imperador. Foi a segunda nação a tornar-se independente nas Américas. Isso, no entanto, não foi respeitado, já nessa época o preconceito contra o negro levou os EUA e a França a se unirem para impor um bloqueio comercial a essa nação por longos 60 anos.
Com todos os infortúnios causados pelos países vistos como potências, colocando e depondo ditadores e invadindo o país para mostrar poder, houve ditadores que massacraram aquele povo sem nenhuma piedade. Depois, com aval da ONU, fizeram eleições, quase sempre vistas como manipuladas, pelos quase ditadores, para manter o poder submisso aos EUA e as nações unidas.
Um povo guerreiro, que antes das grandes extensões de terras nas Américas – como o Brasil - já estava lutando pela sua liberdade, criaram sua identidade, diferente do Brasil que até hoje não a tem por ser um país independente baseado em mentiras, manipulações e teatro. A identidade haitiana só chegou perto de sucumbir após muitas desgraças, desde as naturais às guerras, ditaduras e invasões de sua soberania.
Então, quando as tropas brasileiras retornam da missão Minustah e são colocadas a serviço de um estado fraco, para invasões e matança, cumpriram as profecias tão alardeadas pelos defensores dos direitos humanos e pela esquerda. São usados homens que estiveram certamente treinando em outra pátria para dar cabo a esse tipo de solução de forma incoerente com a qual o momento pede. Não que a situação do RJ tenha que ser esquecida, contornada como sempre foi, para que os poderosos e políticos se mantenham no poder, mas existe uma realidade criada, mantida e estimulada pelo Estado, de forma quase que consciente, seu afastamento da população e entrega a grupos tidos como governo paralelo.
A situação do RJ não pode ser avaliada dentro de um contexto básico e simplório de ação tática e estratégica, se é que existe realmente alguma estratégia. Mas deve se olhada com profundidade social, honestidade política e postura para mitigar tanta miséria humana. Há que se erradicar o crime, tanto dos morros quanto das policias, há que se extirpar, sim, a sujeira de dentro das assembléias, câmaras, secretarias e gabinetes, pois é o tipo de coisa que somente mantém o status quo, com bandidos em todo aparelho do Estado e fora dele.
Ter começado a limpar a assembléia de alguns lixos políticos talvez tenha sido o primeiro passo realmente importante para a política e para a sociedade carioca. Com pessoas que arriscam suas vidas, não só os policiais, mas alguns pouquíssimos bons políticos, que fazem da ética e da luta social algo maior que os cargos e dinheiro. O Estado precisa aprender a fazer as coisas sem ter como base eventos bilionários que não tragam realmente valor para a cidade, a não ser financeiro por um curto período, mas realmente não traz avanços sociais e a gastança pública só beneficia os empresários sem escrúpulos e banqueiros.
Portanto, ter usado de um poderio militar indefensável para aquelas pessoas do Haiti, treinar técnicas de invasão, tortura, segregação e subjugação em várias situações e depois usar nas nossas favelas, não terá validade se não mexer no cerne do poder, se não revirarmos a podridão na qual nos encontramos e se não reagirmos como uma sociedade realmente organizada. Os soldados da Minustah não serão de grande ajuda se usarem somente da força e dos treinamentos contra insurgentes, guerrilha ou algo que o valha. São necessárias atitudes político-sociais, sem medidas sócio-educativas e investimento em infra estrutura, em educação, em atendimento e moradia, aquelas pessoas dos morros vão continuar sob o jugo dos traficantes ou das milícias que voltarão assim que o Estado fizer o que sempre faz, abrir mão de atuar como gestor social.

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