Cidinha Campos e a manutenção do status quo

http://www.youtube.com/watch?v=_tZuSjHn3yc&feature=player_embedded
http://www.youtube.com/watch?annotation_id=annotation_308225&v=Z6YLQCg3m-s&feature=iv
Há alguns meses enviei um email com um vídeo da Deputada Cidinha Campos do RJ para alguns amigos; primeiro pelo grande descontentamento demonstrado pela parlamentar de forma, até certo ponto demagógica e teatral, depois, pela clara verdade inserida nas suas palavras, mesmo que não fossem verdade para a senhora que as proferia.
Vendo alguns outros vídeos, de ataques diretos aos seus pares, nessa última atitude com uma dose de insanidade, sem pensar na real situação, parecendo possuída por um ciúme infantil e uma clara falta de consciência cidadã e política chega a parecer que a parlamentar não sabe nada de sociedade ou de conjuntura. Não é possível negar que ela traz para a tribuna muitas das nossas revoltas, às vezes inconseqüentemente, coloca situações antagônicas em relação a quem defende de verdade uma postura ética e de bom senso, não entro em mérito nem em julgamento pessoal, mas a que se levar em conta toda a realidade antes de um pronunciamento que cai por terra à menor avaliação com bom senso.
Os vídeos a seguir estão circulando na net, editados em sua maioria, mas trazem um ataque pessoal a um dos melhores parlamentares do país, o único do RJ que tem coragem suficiente para criar, persistir e levar a cabo uma luta contra o sistema, contra as milícias e contra o trafico ao mesmo tempo. O deputado Marcelo Freixo, em sua carreira, manteve a coerência e o bom senso, não tem deslizes que o coloquem na galeria dos bandidos políticos, e nós temos muitos, nem que o coloquem dentro da gama dos sem ideologia. Esse político persiste em manter-se dentro dos princípios que deveriam nortear a vida de todo homem público, mesmo quando a maioria se entrega ao caminho fácil, Marcelo, em sua ideologia quase juvenil, mostra que não tem outro caminho a seguir a não ser manter-se dentro do que é certo, pois só assim é possível mudar a situação atual.
Freixo é um dos parlamentares de uma geração cansada de banditismo, tanto político como social, com visão ampla de atuação parlamentar, em um partido que defende claramente, com certo radicalismo, uma postura centrada na democracia, honestidade e igualdade. Representa uma fatia da sociedade que acredita que é possível lançar um olhar humano sobre os temas políticos, saindo da vala comum da maioria dos políticos defensores da manutenção de um status conseguido há muitos séculos com base em subjugação e derramamento de sangue.
Esse parlamentar mostra que sua visão da sociedade é de humanização, de cidadanização (abro o parêntese para o neologismo), que isso pode trazer bons resultados a médio e longo prazo. Defende de forma ideológica, clara e coerente sua postura e suas ações. Está para o parlamento como poucos homens públicos no mundo estiveram, buscando sempre o melhor para o ser humano em detrimento do sistema.
Esse político que tem coragem de colocar sua vida em risco, não tem mais a liberdade de movimento que a deputada Cidinha tem, porque colocou sua vida em favor de seus ideais, mesmo que para isso não possa estar em lugares e com pessoas que gosta. Quantas pessoas tiveram assim no país nos últimos anos? Contem e verão que os dedos de uma mão serão mais que necessários. É deste homem e cidadão que a deputada fala em seus últimos ataques, histéricos, sem fundamentos, em uma clara tentativa de manter o status quo, trazendo inverdades e mantendo uma postura de personalismo em relação ao seu par.
Volto a dizer, em alguns momentos a radialista travestida de deputada faz seu jogo muito bem, teatralmente, mal ou bem, leva a indignação do povo, em alguns momentos, a plenária de uma assembléia envolta em um mar de lama. Mas ter bom senso deveria ser também uma postura de políticos como ela, que juram defender somente interesses públicos.
Não é possível olhar para uma situação como a do RJ somente como uma guerra entre bandidos e polícia, é necessário ter uma visão mais ampla, mais anterior, menos emocional. A parlamentar não pensa e não fala sobre os anos que o RJ passou sob o jugo dos bandidos, também se esquece de mencionar todo o gasto feito para os jogos pan-americanos e que não chegaram a favorecer a população depois que eles se foram. Esquece que alguns meses antes do evento o exército estava na rua e a polícia invadiu favelas, matou traficantes, matou gente inocente e não deu muita satisfação sobre suas ações. A parlamentar e seus seguidores esquecem que isso é cíclico, não é de interesse público coisa nenhuma, não é de interesse coletivo, nem da população. Só tem interesse nessas ações sem planejamento social a grande mídia, os grandes empresários que ganharão “rios de janeiro de dinheiro”, esses que querem a manutenção do status quo, pois sem a segregação, submissão, subjugação dos que estão no morro e em classes sociais mais baixas, não vai existir essas situações de desigualdade.
Cidinha deveria conversar mais com gente que pensa de outra forma, sair da direitização quase nazista que faz parte da alta sociedade. Não importa quantos pobres morram desde que não chegue aos apartamentos e casas da classe média e da high society, fica tudo bem. Essa desumanização da política é combatida por guerreiros, heróis e homens de bem como Marcelo, pessoa necessária ao bom andamento da democracia. Democracia esta lembrada somente quando alguns donos do Estado e da sociedade se sentem deslocados e em vias de ter prejuízo.
É interessante sair da plenária e ir ver as donas de casa reclamando das invasões, dos maus tratos e dos delitos cometidos pelos policiais. Estes defendidos em sua totalidade pela deputada em seu discurso. Que haja homens bons na corporação militar, sem dúvida eles existem, mas o próprio exército está se recusando a colocar efetivos por mais que seis meses nesses locais porque a sujeira é tão grande que contaminariam as forças armadas em pouco tempo. Essa visão da realidade não é clara para a deputada, roubo de eletrodomésticos, de dinheiro de trabalhadores, sem provas de que poderia ser ilegal, o desrespeito com as adolescentes, a agressão muitas vezes gratuitas das pessoas daqueles locais, isso deveria fazer parte dos discursos da parlamentar revoltada.
Marcelo Freixo é uma das vozes contra a coisificação, ou seja, contra a transformação das pessoas em números e coisas a serem descartadas. Defende politicamente o que todo político e cidadão deveria defender, uma visão clara das ações do Estado, visando dirimir os prejuízos sociais e não somente os econômicos e contábeis. E é esse tipo de parlamentar que tem agora que ouvir que se ele quiser ser herói que saia para enfrentar a banda podre da policia, os bandidos fardados e os piores tipos de criminosos que existem, por serem pagos para seguir a lei, de peito aberto.
O deputado tem em seu currículo lutas que o colocam longe da corja política que infecta nossa sociedade, tem coragem para estar em um grupo que prima pela humanização, pela coerência política, pelo discurso centrado em direitos das pessoas e dos cidadãos. A votação expressiva que conquistou parece ter trazido a tona um ciúme infantil de políticos escandalosos e sem ações que os respaldem. O parlamentar fala manso, age como um herói, mas o grande ato de heroísmo desse representante do povo é simplesmente fazer o que é necessário, o que dever do cidadão, coisa que ninguém faz nesse país.

Comentários