o livro negro dos eua capitulo 3 - hiroshima e nagasaki

“Ao sermos os primeiros a usar a bomba atômica, adotamos um padrão ético comum aos bárbaros da Idade das Trevas” Willian D. Leahy – almirante chefe do grupo de trabalho do presidente Truman.

Uma das grandes questões em relação aos americanos é como pode um governo que faz o que faz, matando, mutilando, exterminando e demonstrando sua força com povos muito menos capazes de reagir e seus cidadãos fazerem vistas grossas para tanto derramamento de sangue.
Um desses exemplos foi a destruição das cidades de Hiroshima e Nagasaki por bombas atômicas no final da segunda guerra mundial. Mais de 170 mil cidadãos civis, mulheres, crianças, idosos e homens em idade de trabalho, foram mortos instantaneamente pelas explosões dos dois aparatos. Sem contar os outros tantos que morreram por envenenamento radioativo, pouco depois e décadas depois.
O mito que se criou foi que era necessário dar aquela demonstração de poder bélico, salvando vidas de cidadãos americanos e de japoneses. “Ao serem impiedosos, demonstraram piedade”, foi o tema do editorial do Chicago Tribune, em elogios rasgados ao governo e aos militares americanos. Truman, a época presidente, chamou o ataque a Hiroshima de “o maior feito da história”, quando soube do êxito do ataque a cidade japonesa.
O jornalista contratado pelo departamento de guerra dos EUA a época, William Laurence, coloca os momentos anteriores aos ataques com um romantismo que não seria digno para aquele momento. Uma de suas perguntas retóricas, com o intuito de levar o mundo a aceitar sua versão ou a dos americanos como a verdade é: “Será que alguém sente piedade ou compaixão pelos pobres diabos que vão morrer? Não quando se pensa em Pearl Harbor ou na marcha da morte em Bataan”. O pior dessas reportagens eram as mentiras, hoje se sabe que Hiroshima não era como os americanos diziam, cidades militares com fábricas de armas para serem usadas contra eles. Mas isso é o que o cidadão americano queria ouvir, só respaldava como se sentiam e tirava o peso da consciência ler esse tipo de imbróglio. Para os EUA, o uso da bomba atômica serviu para dar fim a guerra e salvar muitas vidas, sem contar a justiça que estava sendo feita a um inimigo cruel que matara centenas de soldados americanos em ataques traiçoeiros.
Truman orou quando o projeto da bomba foi dado como pronto para uso. “Agradecemos a Deus por (a bomba) ter vindo a nós em vez de nossos inimigos, e oramos para que Ele nos guie para usá-la à Sua maneira e com Seus propósitos”. No mínimo isso é doentio, ortodoxo e de um radicalismo religioso além do radicalismo dos mulçumanos que se tornam suicida. Mesmo com muitas vozes se levantando para questionar o uso da bomba em civis, já que o Japão estava pronto para a rendição, o governo, mesmo não sendo inspirado pela necessidade militar, colocou seu plano em ação. Os interesses políticos foram maiores que a compaixão, o uso indiscriminado do poder de morte que estava nas mãos dos americanos foi usado sem pensar duas vezes.
Essas cidades, seus habitantes, foram alvo do que era mais sórdido na guerra entre capitalistas e comunistas. Os americanos precisavam mostrar o poderio que tinha nas mãos, assim impediriam os soviéticos de expandirem suas bases. Além disso, era preciso dar satisfação ao congresso, pelos gastos de mais de 2,5 bilhões de dólares em um projeto que não seria usado. Os japoneses foram mortos por capricho e mania de grandeza de um país sem escrúpulos, sem visão de que existem seres humanos tão bons quanto eles. A hegemonia que essa nação impõe ao mundo nos últimos 100 anos no mínimo, a base de derramamento de sangue e de formas equivocadas de fazer política externa, continua até hoje a fazer vitimas.

“Em 1899 e 1907, os EUA assinaram os tratados de Haia, que baniam o uso de armas envenenadas nas guerras. Também concordaram com a resolução de 1938, da liga das nações, que tornava ilegal o bombardeio intencional de civis”. Por si, esses tratados já colocariam os EUA com réus incontestáveis em um tribunal decente, o pior foi saber pelos comandantes e militares que participaram do projeto da bomba, muito depois, foram mostrando ao mundo como foi realmente tomada as decisões e quais eram as informações que se tinha na época sobre as mortes por radiação e pela explosão.

Há que se levar em consideração alguns fatos históricos da guerra, quando os EUA diziam que só atacariam alvos militares com as bombas atômicas, a intenção primária era de acabar com toda e qualquer moral que pudesse se sobressair daquele povo já tão ultrajado; em março de 1945, a força aérea americana atingira vários alvos tidos como alvos militares, no entanto, o saldo foi de mais de 100.000 civis, ou seja, não existiram escrúpulos naquele momento, também não existiriam em relação à bomba de hidrogênio e seu uso. Tanto que Henry Stimson, secretário da guerra naquela ocasião, insistiu que a força aérea fosse mais precisa possível, evitando baixas civis, e a explicação para isso não era querer evitar baixas civis, e sim “evitar que o mundo os tivesse como mais cruéis que Hitler”. Continuando sua desenvolta explicação, Stimson revelou “estava um pouco temeroso de que, antes que nos aprontássemos, a forca aérea tivesse bombardeado tão completamente o Japão que a nova arma não tivesse um cenário adequado para mostrar sua força”. Como diz Scowen “em outras palavras, guardem alguns civis para a bomba atômica”.

Quando os cientistas do projeto perceberam o tamanho do poder da bomba, começaram a se preocupar com seu uso, alguns inclusive tornaram-se contrários a seu uso. Alegaram que o uso de uma arma nuclear poderia dar inicio, em tom profético, a corrida por armas nucleares. Naquele momento, já não existia o receio dessa conquista tecnológica por parte da Alemanha, já que essa se rendera em maio daquele ano. Truman até cogitou também fazer uma demonstração para os representantes dos países na ONU, em um local sem vida, para que soubessem o que os EUA tinham nas mãos. Mas “havia outros fatores em jogo” a começar pelo público americano que “estavam obcecados pela idéia de rendição incondicional do Japão”, que foi uma propaganda criada por Roosevelt em 1943: “por meio de repetição apaixonada durante a guerra, tornara-se um grito de união e, ao mesmo tempo, uma política inflexível. Na verdade, quando Truman fez seu primeiro discurso no congresso depois de assumir a presidência, sua clara declaração de que “nossa exigência foi e continua sendo a rendição incondicional” fez a câmara levantar-se num retumbante aplauso”.

O que levava o Japão a não querer render-se incondicionalmente era a exigência de deposição do seu imperador, sua cultura o reverenciava como a um deus. A sua recusa em abrir mão do fator cultural que levava a lealdade extrema a seu imperador, assinou a sentença de morte das duas cidades e de seus milhares de habitantes. Os japoneses sabiam da inevitabilidade da derrota por isso queriam o fim da guerra o quanto antes. O contexto era o seguinte, “a Alemanha redera-se, isolando o Japão, os bombardeios norte-americanos podiam atacar impunes suas cidades graças ao controle do Pacífico pelos aliados, a URSS estava ponta para da um fim ao seu pacto de neutralidade com o Japão e invadi-lo, as rações de arroz haviam se reduzido a quase nada e o povo japonês era obrigado a comer bolotas, os cientistas, ante a falta de petróleo tentavam desenvolver combustível de avião com raízes de pinheiros e o governo japonês entrara em colapso e caíra nas mãos de um idoso almirante “famoso pela sua moderação”. Além disso, o bloqueio marítimo e todos os ataques as cidades japonesas minaram o animo e eles acumularam perdas muito grandes em termos materiais. Milhões sem casa, quase 50% das áreas construídas das cidades mais importantes estava em escombros. Uma das coisas que mostram com clareza a vileza das ações para com o Japão, no que tange ao uso das bombas, é que os aliados já haviam interceptado e decifrado os códigos japoneses de transmissão e comunicação, inclusive “um telegrama do imperador, onde afirmava querer que a guerra terminasse depressa”.

Quando Willian D. Leahy, chefe de estado do governo Truman diz “os japoneses já estavam derrotados e prontos a render-se devido ao eficiente bloqueio marítimo e ao bombardeio bem sucedido com armas convencionais (...) ao sermos os primeiros a usar a bomba atômica, adotamos um padrão ético comum aos bárbaros da Idade das Trevas”. Demonstra também a capacidade de não ter ética dos americanos, bem como sua frieza e crueldade. Eisenhower ainda complementou esse raciocínio, pois foi general na época da guerra, depois presidente dos EUA “o Japão estava, naquele mesmo momento, buscando alguma forma de render-se com uma perda mínima de ‘aparência’ (...), não era necessário goleá-los com aquela coisa”. Para consolidar ainda mais a idéia de que o Japão não resistiria e se renderia, uma pesquisa 1946 de bombardeio estratégico dizia que “certamente, antes de 31 de dezembro de 1945(...) o Japão teria se rendido mesmo que as bombas atômicas não tivessem sido lançadas, mesmo que a Rússia não entrasse na guerra e mesmo que nenhuma invasão fosse planejada ou imaginada.”
Além do mais, os EUA pararam de insistir que a rendição fosse incondicional, após os ataques atômicos. Tanto que quatro dias depois que os japoneses se renderam, os EUA aceitaram em permitir que o imperador permanecesse no poder. Ou seja, após negar ao povo japonês a única condição colocada para a rendição, os americanos lançaram as bombas em uma população civil, dizendo que era para os japoneses abandonarem a idéia de manutenção do imperador, eles concordam sem hesitar.
Isso faz com que pensemos um pouco além do divulgado. Se tudo estava levando a rendição dos japoneses, porque Truman insistiu em usar a bomba? A resposta é muito mais política e de hegemonia de poder. Quando perceberam que a URSS estava crescendo em tamanho e poder, os americanos dispuseram do seu artefato mais perigoso e cruel para consolidar sua hegemonia, mostrando publicamente o poder da bomba, a Rússia se manteria menos confiante e mais manejável. Uma outra consideração que se pode fazer é que Truman colocou-se em uma situação delicada frente a opinião pública americana, com medo de ter que prestar conta de um projeto de um custo imenso sem resultado tangível.
Uma analogia se faz necessária nesse momento, quanto a comemoração dos soldados americanos quando souberam do uso da bomba contra o japa ”eles pularam de alegria, da mesma forma que foram filmados os palestinos depois de receberem a noticia dos atentados do 11 de setembro”. Ninguém pensou nas vítimas, como seres humanos, mas como uma raça desprezada, no caso dos japoneses, pelos EUA e pela sua população. “Uma pesquisa de 1944, feita pelo Gallup mostrava que 13% dos americanos eram a favor da eliminação dos japoneses através do genocídio”. A pergunta a seguir é, qual a diferença entre esses americanos e os alemães nazistas? Como sempre, as notícias saíram ao bel prazer do departamento de guerra dos EUA, informando como convinha a população já instada pelo ódio racial, lembrando os ataques a Pearl Harbor. O jornalista americano, como o cidadão americano médio, não era capaz de fazer outra coisa além de repetir o que o departamento de guerra os fazia engolir. “quando Nagasaki foi bombardeada, isso mal chegou à primeira página dos jornais americanos.”

O pior no ataque a Nagasaki foi ver que os americanos após detonarem com uma cidade ativa, viva e produzindo, com seus cidadãos e civis em plena vida social, foi não dar tempo sequer para avaliarem os estragos feitos a Hiroshima, partiram para um ataque sem defesa a segunda cidade, matando em primeiro momento, mais de 200.000 pessoas. Isso fez com que o ataque a Nagasaki tomasse dimensões de extrema crueldade. “Nos julgamentos de Nuremberg o juiz q presidiu os julgamentos chamou Nagasaki de “crime de guerra”. Apesar disso, os EUA nunca foram acusados de tal coisa. “Estima-se que em 1950, aproximadamente 350.000 pessoas haviam morrido como resultado direto das bombas atômicas lançadas sobre o Japão”. Metade dessas pessoas morreram imediatamente, a outra metade, em decorrência da exposição a radiação.
“o bombardeio ao Japão deu inicio a guerra fria. Se os EUA estavam dispostos a usar uma arma assim, que escolha teria a URSS senão preparar seu próprio arsenal.” O pior nesse momento é a realidade atual, pois das 132 bombas nucleares de 10 quilo tons, do tamanho de uma mala de viagem, fabricadas pela Rússia, segundo relatórios do congresso americano, os russos só conseguem prestar conta de 48 delas. O terrorismo a seguir não precisa mais ser de suicida atirando aviões em prédios símbolos, mas podem se tornar bem mais eficientes se esses artefatos caírem em mãos de inescrupulosos. Aí não é só os EUA que precisarão ter medo, todo o mundo pode ser alvo.
Como os americanos podem esquecer-se de monstruosidades como essas, o ataque a fábrica de medicamento de Al Shifa? Qual o real significado da vida para eles? Ou será que a vida que tem valor são só as que nascem em solo americano?
E o Wikileaks que o digam, quanto a forma dos EUA tratarem os outros povos, com descaso, displicência e desrespeito. Atacando civis, como vistos nos vídeos do inicio desse ano, postados no site do Wiki. O instituto Smithsonian tentou em 1995 montar uma exposição sobre os ataques nucleares, que foi cancelada por grupos conservadores de veteranos e congressistas. A idéia era mostrar ambos os lados da história, só que a história que interessa aos americanos não passa por outra análise além da deles próprios.

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