Debate sobre documentário Raça humana


Documentário “Raça Humana”


O documentário começa mostrando a porcentagem de vagas destinadas aos negros na UnB, 20% das vagas foi destinada ao projeto cota racial, pois o filme trata dos conflitos relacionados à implantação do projeto de cotas nesta instituição, que também foram espalhados pelo país como uma discussão nacional, o que realmente o é.
O argumento usado pelos contra cotas, ou contra a igualdade em relação a negros e brancos é a mesma, não existe raça, preto e branco são cores, o germe da separação foi lançado. Argumentos normalmente fracos quando colocamos as questões reais, o dia a dia do negro e da juventude negra em relação a um futuro mais digno.
A professora Roberta Fragoso, ariana, contra as cotas, usa de uma forma apequenada e tenta justificar ser contra cota colocando como ponto principal seus estudos para mestrado, a falácia do especialista; dizendo que a universidade assume o risco de criação de guetos brancos e negros, e que a universidade poderia usar de outros mecanismos para diminuir a distância racial, não fala ou exemplifica nenhum outro.
Outro que coloca sua posição contra as cotas é o prof. Hermes, dizendo que o vestibular mede a capacidade intelectual e esta não é afetada pela quantidade de melanina no organismo ou pelo estereótipo. Esquece que para termos igualdade pensando somente em vestibular teríamos de colocar em prática uma forma de o negro primeiro ter igualdade de disputa, ou seja, os alunos todos estivessem na mesma condição social e que estes saíssem de escolas públicas.
O contra ponto acadêmico é colocado pelo professor José Jorge, que fala sobre a divisão populacional, quase igual, onde um grupo submete outro a menos de 1% na vida acadêmica. Sendo assim, ele afirma se não tiver cota na graduação, como chegar a uma situação mais igual.
Os alunos negros dizem que sem as cotas raciais não chegariam a universidade, alguns dizem não ter sequer um ente dentro de uma instituição superior, estudando, pública ou privada. O outro grupo, branco, diz se ver perplexo com a criação das cotas em um país democrático e onde não há racismo. Outro coloca a falácia da excelência, presente em toda e qualquer empresa multinacional ou no sistema meritocratico, como deveria ser dito por ele, que sempre privilegia quem tem ou pode mais. Seguem dizendo que negros tiram as vagas de brancos, que os negros entraram sem ter nenhuma dificuldade na vida acadêmica, esquecendo que a questão da educação de péssima qualidade no sistema público não permitiria jovens negros ingressarem, pois quase todos vieram de instituições públicas, ao contrario destes garotos do grupo.
No decorrer das intervenções do grupo, de garotos brancos, o racismo presente é claro, a falta de consciência da realidade, a falta de coerência com o mundo em que vivem fica patente, pois as colocações são apequenadas pela falta de visão do mundo ou da realidade. Outra falácia, cada vez mais derrubada no nosso dia a dia com a formação de profissionais negros excelentes, apesar de entrarem na universidade em situação de inferioridade na formação, é de que as cotas valorizam a mediocridade. Como na universidade em questão já havia um precedente de racismo, Caso Ari, citado no documentário, onde um aluno negro foi com notas máximas em todas as matérias, foi reprovado pela instituição sem um por que. Não justificando a reprovação, o professor ameaçou que, pedido a revisão da nota ele seria novamente reprovado, a disciplina não tinha negros em seus quadros, como relatado por professores da instituição.
O filme continua mostrando o desenrolar politico, quando o DEM levou ao STF uma acao de inconstitucionalidade relacionada às cotas. Na votação do estatuto da igualdade social, este partido mostra o racismo em sua constituição, em seus representantes, lorenzoni, o deputado pautado para levar a destruição do estatuto, coloca as cotas como uma possibilidade maior de aumento nesta desigualdade, como se isso fosse possível, esquecendo que o brasil tem índices de desigualdade muito mais profundos na população negra. Usa da mentira mais comum entre os que tentam justificar sua posição em relação ao racismo, que é a da democracia racial, como se houvesse alguma verdade nesta teoria.
Outra situação posta sempre que é necessário justificar o racismo, este defendido por magnoli com toda força, como também pela professora Fragoso, é a questão cientifica que não reconhece os seres humanos divididos em raça. Cientificamente so é reconhecida a espécie humana, fala-se de genética como se ela fosse quem definisse as atitudes de racismo como feito pela professora, mas esqueceram que a discussão não tem a ver com ciência e sim com preconceito, normalmente é uma atitude estruturada na ignorância, na forma de ver o mundo e na formação do individuo. Não tem a ver com ciência.
Magnoli tenta rever a historia e a questão do racismo cientifico no século anterior como um ponto de vista ultrapassado, mas não ve que o negro não está livre do racismo e da ignorância dos que são racistas, o geografo continua sua defesa anti cotas respondendo que algumas questões da universidade para seleção pelo critério racial são para arregimentar militantes para os movimentos negros. Os argumentos que se tomam para ser contra as cotas levam a uma avaliação do nazismo como algo parecido com a adoção de cotas nas universidades. A comparação é tao desestruturada que a professora não consegue ir além da ideia esdrúxula.
No lançamento do livro de magnoli, o racismo e falta de coerência como homem que se julga capaz de avaliar uma questão desta profundidade, ele é confrontado por um pedido de resposta a qual não permite e coloca como se tudo fosse questões de grupos organizados em milícias para destruir o país. Sem argumento para não permitir a intervenção, insinua somente um fato politico do militante do movimento negro. Seus convidados, com posturas racistas, vaiam a intervencao, mas não buscam abrir o momento para um debate.
Algumas colocações dos alunos contra cotas chegam beira da ingenuidade, ou da ignorância plena, dizer que o carnaval é comandado por negros, que todos tem igualdade de oportunidades, seguindo o script dos racistas e dos defensores da manutenção de um país desigual e racializado, como alguns se negam a ver.
E a solução para as questões da desigualdade no Brasil continua sendo educação de qualidade, como se, enquanto não temos as politicas educacionais nos primeiros anos da escola igualadas e estruturadas, os negros têm que se colocar em seus lugares e esperarem mais trinta anos para entrarem para o ensino superior. Outro argumento é a questão de cotas sociais, que não leva em conta o fato do negro sempre ser colocado nas piores posições do mercado.
O racismo é tao intrínseco no sistema político brasileiro que a votação do estatuto da igualdade racial ficou tramitando mais de uma década, no congresso nacional e ainda foi totalmente deturpado, em relação ao original. As cotas raciais foram suprimidas como obrigatoriedade para as universidades públicas.
A realidade é muito parecida com a vivenciada antes das cotas; apesar de termos mais negros dentro das universidades, com notas melhores que muitos alunos de escolas particulares, brancos e bem formados, o negro continua ganhando menos, nas mesmas funções, sendo submetido a situações vexatórias e humilhantes, mas continua lutando por igualdade. Algumas atitudes vistas na mídia nos últimos tempos demonstra que temos tomado consciência social, com negros não mais aceitando imposições racistas. Casos de negros que processam racistas por suas atitudes diretas ou instituições que permitem seus funcionários serem ou terem atitudes racistas tem sido mais constantes.
Mas ainda há muito o que evoluir, temos que lutar por nossas educação, pela ocupação politica, por uma representação mais igual nos locais públicos e na vida pública.


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