4º Congresso do Psol - 2013



Nos dias 29/11 a 01/12 ocorreu o congresso nacional do Psol, em Luziânia, a 40 km de Brasília, com aproximados 400 delegados e 150 observadores de todos os estados do brasil. Um evento típico da esquerda séria, que deveria manter tradições de democracia e transparência para todos os militantes e para o conjunto da sociedade.
O congresso começou na sexta feira, dia 29/11, com uma abertura esvaziada, composta apenas por alguns observadores e pelo grupo de delegados da unidade socialista. Salvo algumas exceções, como no meu caso, poucas pessoas de outras correntes fizeram parte do ato de abertura. Contou com a presença do deputado federal Ivan Valente, do prefeito de Macapá, Clécio, do senador Randolfe e alguns componentes do diretório e executiva nacional.
A princípio é de se estranhar a ausência do bloco opositor, mas não é de totalmente estranho que isto ainda aconteça, visto que a esquerda ainda tem destes melindres e dificuldades em lidar com situações de disputas, principalmente internas. O bloco de esquerda, grupo formado por uma aliança ampla de tendências para competir com o bloco liderado pelo deputado Ivan Valente, com a intenção de chamar a atenção para denúncias que veio promovendo desde alguns dias antes do congresso, preferiu protestar não validando a cerimonia de abertura do congresso, fazendo de sua ausência seu protesto.
O tensionamento ficou pior com posturas inamistosas e personalistas vindas dos dois blocos, com provocações e palavras de ordens que visavam tirar do sério o oponente. Momentos que beiraram a violência física foram pontos de tensão também durante o sábado, dia 30/11, onde, durante todo o dia foi tentando reverter o quadro que se desenhava de abandono do congresso, de invalidação e de a possibilidade de construção de outro congresso ser aventada. Havia no bloco opositor à atual direção a clara certeza de que um embate estruturado em contagem de votos de delegados daria a vitória a situação. Com argumentos pouco levado a serio e atitudes que iam da agressão pessoal ao denuncismo, muitos momentos tensos, tentaram levar a ideia de que deveríamos levar às prévias a escolha do candidato a presidência pelo Psol.
Com a colaboração de lideranças e de parlamentares, independentes, ou seja, sem ligação com uma ou outra tendência, encarregados de tentar salvar o congresso e que este se desse com o mínimo de dignidade, fizeram uma reunião na tarde de sábado, com a ideia de conciliar com o conjunto dos dirigentes, as visões e amenizar a situação que, no mínimo, era crítica no sentido de tensão criada. Marcelo Freixo e Chico Alencar dispuseram-se a mediar e tentar encontrar uma saída para o impasse que tinha em seu eixo denúncias de plenárias fraudadas em MS e de Macapá, onde militantes saltaram para números altíssimos, de acordo com as alegações do bloco de esquerda, e não existia um documento que provasse a presença dos filiados que geraram aproximadamente 10 delegados a mais para o grupo unidade socialista. Também, alegando que houve fraude eu uma plenária em um distrito de Macapá, que elevou o numero de delegados a aproximadamente 5 delegados que foi a conta exata dos votos a mais que o grupo apoiador da candidatura de Randolfe obteve nas votações para escolha da sua candidatura a presidência.
Com muitas palavras de ordens denunciando posturas, fraudes e falhas de caráter de dirigentes e do candidato a presidência, o congresso seguiu tenso até seu final. A truculência em não abrir mão da candidatura de Randolfe demonstrou a falta de democracia que se deseja em um partido que se diz socialista, onde deveria ter, em tese, capacidade do gerenciamento destas questões a partir da base. Em todos os momentos que se buscou consenso, a única voz que sobressaia era a do grupo unidade socialista, visto que, com o domínio dos votos a mais, não se dispuseram a negociar para que o congresso se desse em um clima que demonstrasse a maturidade dos dois lados.
O congresso acabou tendo seu processo original fragmentado, com a discussão politica e programática deixada de lado, favorecendo o personalismo e pouco acrescentando a vida politica e partidária. Um debate que deveria ser tratado com a vivência de quem deixou um partido como o PT, mas que mostrou que a repetição de velhos hábitos ainda é uma das armadilhas que a esquerda que pretende representar movimentos sociais, a sociedade interessada e seus militantes, deve se preocupar eliminar de suas práticas.
Uma situação que deveria ser tratada em um congresso de um partido adulto, com maturidade para entender e acertar suas arestas, foi o caso da intervenção do diretório nacional na decisão tomada pelo diretório estadual do RJ, também colocada como denúncia pelos militantes que compunham o bloco de esquerda, tratando a questão como uma troca onde a unidade socialista apoiou a deputada Janira Rocha em sua permanência no partido, em troca de seus votos no congresso e apoio a candidatura do senador Randolfe. Verdade ou não a questão da negociação, a interferência direta em uma instância que se sentiu afetada, ofendida e desgastada com a situação da deputada, trouxe também uma demonstração de falta de coerência politica, de discernimento em relação ao futuro do partido e de capacidade de fazer valer as resoluções estatutárias, protegendo pessoas de círculos próximos ou de afinidades politicas.
Uma das frases que temos repetido e se viu em algumas teses contemplada, a de que queremos um partido com tendências e não um partido de tendências parece cada dia mais utópica. O fortalecimento de grupos que se sentem senhores do partido ou querem submete-lo a seu jugo, paradoxalmente, acaba criando cada vez mais grupos menores querendo o mesmo. Com o intuito ou a desculpa de sem um grupo organizado não se pode combater as forças majoritárias do partido, os grupos regionais e agremiações menores vão se juntando pelo país afora, levando a possibilidade de entendimento interno para fronteiras cada vez mais distantes.
Outra certeza que fica é de que democracia real, ampla e irrestrita para os militantes vai continuar sendo um sonho. Falamos dela quando convem, quando das manifestações, quando achamos que vai ganhar o público a quem nos dirigimos, mas lutar pela mesma é outra estória. Talvez, independente do resultado final ao qual chegamos, dos resultados deste evento partidário, seja interessante pensarmos mais e mais em relação a uma politica partidária mais plural, mais ampla e mais participativa. Dar ao militante, mesmo com regras que diminuam as possibilidades de jogadas que inflem grupos, que permita controle dos que realmente participam da vida partidária nas suas decisões, é imperioso.
Fica uma tarefa árdua também que cabe ao conjunto do partido desenvolver: trazer os militantes que não se sentem representados pelo senador Randolfe para que a campanha não seja mais um fiasco, visto que a maioria das campanhas até agora contam com apenas os que são a favor de determinado candidato e de alguns poucos que sublimam suas frustrações e põem a disposição do partido sua colaboração, independente de quem esteja na disputa, pois vê com outros olhos a vida partidária.
Finalmente, após todas as denúncias, desafetos e desrespeito para com o conjunto do partido, ficou a sensação de vazio, ao final do congresso, onde militantes se viram desanimados por conta de situações criadas e não resolvidas por grupos que se acham acima dos interesses partidários. Fica a missão de unificar o partido novamente, acentuar as diferenças para melhor resolve-las e torcer para que isso leve a reflexão sobre os processos decisórios do partido. Também é função do partido como um todo, resolver que partido queremos, ser um papagaio e repetidor de situações constrangedoras e práticas corrompedoras como as que os partidos convencionais e a velha politica propagam ou fazer a diferença real no dia a dia do país, no cotidiano dos menos favorecidos e no imaginário social.





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